SÃO PAULO - Mesmo com o debate já presente na pauta de debates do ajuste fiscal há meses, boa parte dos brasileiros não tem conhecimento das discussões sobre a reforma da Previdência. Pior, a maioria da população tem pouca ou nenhuma informação a respeito do funcionamento do sistema público de aposentadoria. Os dados constam de uma pesquisa feita pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), entidade que representa 70 seguradoras e entidades abertas de previdência complementar do país em parceria com a Ipsos.
De acordo com o levantamento, apenas 11% declararam que sabem muito ou o suficiente sobre o funcionamento da previdência pública, enquanto 86% disseram saber pouco, nada ou desconhecem totalmente o assunto. Sobre as propostas de reforma do atual sistema de aposentadoria para evitar que o déficit continue crescente, a pesquisa mostrou que 54% já ouviram falar sobre as propostas de mudança, mas 44% declararam não ter conhecimento das discussões.
— Os dados mostram que é grande o desconhecimento sobre o funcionamento da previdência social. Me surpreendeu o fato de que 44% dos entrevistados afirmem não ter ouvido falar sobre as propostas de mudança na previdência pública. É um nível muito elevado de desinformação num momento em que houve muita exposição do assunto — disse Edson Franco, presidente da FenaPrevi, que acredita ser fundamental ampliar o debate sobre o tema neste momento de mudanças.
REFORMA DIFICULTARÁ PEDIDO DE APOSENTADORIA
O levantamento mostrou que 62% dos entrevistados acreditam que uma reforma na previdência vai dificultar o pedido de aposentadoria, e 57% avaliam que as mudanças vão reduzir o direito dos trabalhadores. Para a maioria dos entrevistados (28%), as mudanças na Previdência deveriam ser aplicadas apenas para quem ainda não contribui, enquanto 24% disseram que a reforma deveria abranger a todos que já contribuem com o sistema, mas ainda não se aposentaram. E 68% se mostraram contrários a um aumento de impostos para a manutenção das regras atuais da aposentadoria.
Franco também observa que a pesquisa mostrou um certo grau de contradição entre o que os entrevistados querem e o que acham que é certo. Os entrevistados responderam que os homens deveriam ter o direito a se aposentar, em média, aos 58 anos, e as mulheres ao 53 anos, também em média. Quando perguntados com que idade acreditam que vão se aposentar, as respostas foram 64 anos para homens e 58 anos para mulheres, ambos em média.
- Na prática, atualmente os brasileiros se aposentam com 54 anos, uma idade muito baixa comparada com qualquer métrica internacional. Embora as pessoas entrevistadas defendam uma previdência com mais justiça social e equidade, quando percebem que as mudanças podem afetar a vida delas, elas mostram contradição - afirma Franco.
Outra contradição diz respeito ao estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria. O levantamento da FenaPrevi constatou que 66% dos entrevistados concordam que é necessário fixar uma idade mínima para aposentadoria. Mas 76% disseram ser contrários a que as pessoas se aposentem mais tarde, mesmo vivendo mais tempo. No caso do estabelecimento de uma idade mínima na reforma, a maior parte dos brasileiros (64%) acha que ela deve ser igual para homens e mulheres.
- Nos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em metade deles, a idade mínima de aposentadoria já foi fixada em 65 anos e atualmente há uma discussão para elevá-la para 67 anos - explicou.
A pesquisa revelou ainda que 57% dos entrevistados acreditam que o tempo de contribuição médio para homens deveria ser de 31 anos, enquanto para mulheres a média é de 28 anos. Mesmo assim, os entrevistados sabem que deverão contribuir mais tempo até se aposentarem. Para os homens o tempo médio é de 36 anos e para mulheres de 32 anos, ambos em média.
O levantamento mmostrou ainda que a maioria da população (83%) defende que os servidores públicos deveriam estar sujeitos às mesmas regras de aposentadoria dos demais trabalhadores.
Foram ouvidas 1.500 pessoas com mais de 23 anos de todas as classes sociais. Houve entrevistas em todas as regiões do país entre os dias 21 de julho e 4 de agosto. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos percentuais.
Matéria de: O globo.
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