O presidente Michel Temer disse nesta segunda-feira (7) que poderia suspender a intervenção federal na área da segurança pública que ocorre atualmente no Rio de Janeiro se houver clima político após as eleições para aprovar a reforma da Previdência no Congresso Nacional ou caso os parlamentares queiram colocar em votação o fim do foro privilegiado para diversas autoridades. Ambas as matérias são propostas de emenda à Constituição (PEC), tipo de projeto que não pode ser votado enquanto a intervenção estiver em vigor.
Ao conceder entrevista à rádio CBN no início da noite de hoje, Temer disse que a intervenção “pode ser interrompida” antes de 31 de dezembro, prazo previsto no decreto para seu fim, “se realmente der todos os resultados”. Segundo ele, seria “muito útil” que o próximo presidente do Brasil assumisse o cargo no ano que vem com a reforma da Previdência aprovada.
“Eu tenho talvez chance de votar ainda. Nós temos a intervenção que você não sabe até quando vai. Vamos supor que até setembro as coisas no Rio de Janeiro [melhorem]. Vamos analisar a conjuntura política quando se derem as eleições [em outubro]. Se lá, as coisas estiverem no rumo certo, [podemos suspender]. Eu gostaria até de entregar o governo, se vier a entregá-lo, nessas condições. A intervenção não é para todo sempre. Se for assim, chamarei o novo governador eleito do Rio, o novo presidente, e vou conversar com eles”, afirmou à rádio.
A intervenção no estado foi decretada por Temer e autorizada pelo Congresso Nacional há quase três meses, quando foi nomeado interventor o general Walter Braga Netto, que substitui as atribuições do governador apenas na área da segurança pública. De acordo com a Constituição, enquanto intervenções estiverem em vigor, os parlamentares não podem aprovar emendas constitucionais.
Na entrevista, Michel Temer disse não ter dúvida de que os deputados e senadores votariam a reforma da Previdência antes do próximo governo. Segundo Temer, as denúncias apresentadas contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR) impediram a aprovação da reforma da Previdência, mas o tema não saiu da pauta política. Em fevereiro, o presidente já havia admitido a possibilidade de insistir na reforma a partir de outubro.
Quanto à PEC do fim do foro privilegiado, Temer disse que, caso haja uma “postulação” do Congresso de suspender a intervenção para votar o tema, poderia analisar essa hipótese. Segundo ele, a decisão da semana passada do Supremo Tribunal Federal (STF) de restringir o foro especial para deputados e senadores pode causar um “efeito ilusório”.
“As pessoas falam como se fosse uma grande conquista. Eu às vezes penso nisso. Para quem comete delito, ir para o primeiro grau pode até ser interessante porque teria vários graus [até chegar na condenação]”, disse, referindo-se à possibilidade de, sem o foro, os crimes demorarem a serem julgados. “É uma discussão que não me preocupa e não deveria preocupar ninguém”, complementou.
Sobre a notícia de que membros do Ministério Público poderiam esperar o presidente deixar o cargo para, em janeiro de 2019, aplicarem medidas cautelares contra ele, Temer voltou a criticar o inquérito que investiga o chamado Decreto dos Portos. Segundo ele, caso os procuradores esperem oito ou nove meses para prosseguirem com as investigações, significa que estão apenas “irritados com o presidente” e não se preocupam se realmente há ou não provas sobre o caso. Ao ser perguntado pelos entrevistadores se teme ser preso, respondeu: “Não temo não, acho seria uma indignidade. Lamento estarmos falando sobre isso”.
Eleições
Assim como tem dito em entrevistas anteriores, Temer defendeu uma candidatura “única” à Presidência uninido forças governistas e outras mais ligadas ao chamado centro. Nesse cenário, ele voltou a dizer que poderia abrir mão de disputar a reeleição, mas desde que o candidato escolhido defenda as teses do governo.
“Se conseguirmos encontrar uma única candidatura, é útil para o país. Posso vir a ser. Mas não tenho a menor dúvida em abrir mão se em determinado momento vier essa figura [que unifique]. Se me permite uma expressão livre: [não me importa] se o sujeito vai com a minha cara ou não. Eu quero [saber] é se vai com a cara do governo. Se for para falar mal do governo, evidentemente que estarei fora”, afirmou.
Assassinato de Marielle Franco
Informando que as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes, ocorrido no último dia 14 de março, estão “adiantadíssimas”, Temer disse que os investigadores já trabalham com suspeitos. “Não podemos dizer. Acho que em brevíssimo tempo teremos uma solução”, afirmou, evitando, porém, determinar um prazo.
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