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Identitarismo | Por Wilson Ramos Filho

  • 18 de outubro de 2023

Matéria original:Facebook Wilson Ramos Filho

Há uma falsa identidade automática entre o ser identitário e o ser de esquerda. Muitas pessoas, terrivelmente identitárias, estão longe de poderem ser consideradas como pessoas de esquerda, muito embora sejam acolhidas ou defendidas publicamente pelas pessoas de esquerda.

O partido que mais acolheu representações identitárias, decorrentes de militância social, sem dúvida, foi o PSOL. E desde sempre. Para não arriscar exemplos polêmicos, lembro apenas o histriônico Cabo Daciolo, glória a deush, eleito pelo PSOL, que pode ser acusado de várias coisas, menos de ser de esquerda.

Mas os demais partidos de esquerda também acolheram movimentos e pessoas que defendem uma ou outra pauta identitária como principal. Algumas delas eram ou se tornaram de esquerda, aprendendo o ethos classista dentro do PCdoB ou do PT. Outros são casos perdidos. Não conseguem ser classistas. Alguns deles, eleitos pelo PT, se negam a contribuir financeiramente com o Partido.

Pessoas eleitas por um partido de esquerda, com recursos do partido de esquerda, e que se negam a realizar a contribuição mensal estatutária, tanto quanto o Cabo Daciolo, podem ser considerados legítimos representantes de seu grupo, ou de sua prática identitária, ou de seu movimento de luta pelo reconhecimento. Mas isso não os torna parlamentares de esquerda, embora eleitos por partidos de esquerda.

No movimento sindical há inúmeros exemplos de militantes identitários que passam longe das pautas classistas.

Alguns desses militantes do identitarismo sentem-se mesmo superiores aos militantes da “velha e superada” esquerda tradicional. E quem ousar deles discordar corre sério risco de cancelamento.

 “Oito motivos para entender porque é necessário ultrapassar o identitarismo”

Uma explicação prévia é necessária. Por “identitarismo” não me refiro, obviamente, às lutas emancipatórias dos grupos oprimidos por sua condição de gênero, raça, sexualidade ou outra, e sim a uma forma específica de mobilizar essa condição, focando não nas opressões a serem superadas e sim numa identidade a ser celebrada.

(1) O identitarismo desloca o foco das opressões para as identidades. A identidade é percebida como algo fixo a ser valorizado, uma essência de cada um, não como algo imposto pelo olhar do outro e resultado de uma relação marcada por assimetrias e dominação. Nas palavras de Peter Hudis, “atributos socialmente construídos são tomados como verdades ontológicas.

(2) O identitarismo coloca em segundo plano as questões de classe. Os avanços dos grupos identitários são muitas vezes medidos por conquistas de seus integrantes mais privilegiados – exatamente porque é ignorada a relação entre opressão simbólica e exploração.

Mas o negro no conselho de administração pouco significa no chão da fábrica ou no galpão de telemarketing, assim como a trans estrela da indústria cultural pouco muda a realidade das travestis que sofrem violência nas ruas.

(3) O identitarismo foca em reconhecimento, não em redistribuição. A ideia de identidade remete, no senso comum, a uma autopercepção subjetiva. O identitarismo participa, assim, do processo que levou à afirmação fajuta, nos anos 1970 e 1980, de uma era do “pós-materialismo”.

(4) O identitarismo não sabe estabelecer prioridades. Justamente pela incapacidade de entender os aspectos estruturais da dominação, o identitarismo é muitas vezes motivado pelas tretas do momento e levado a prejudicar avanços futuros por não resistir à tentação de lacrar.

(5) O identitarismo fortalece o caráter opressivo das identidades. Apresentada como porto seguro, a identidade é também uma prisão. Ela homogeneiza seus inregrantes. Como disse Francesco Remotti, “a identidade é a forma extrema de reivindicação da unidade por sujeitos – individuais e coletivos – que, no entanto, são marcados internamente por uma multiplicidade inexorável”. Para que cada pessoa seja si mesma, deve ser capaz de ressignificar a identidade atribuída a ela, sem ser considerada uma traidora da causa.

(6) O identitarismo se opõe às liberdades individuais. Com sua adesão a uma visão limitante de “lugar de fala”, que deixa de ser o reconhecimento do caráter situado de qualquer discurso para se tornar um veto a contribuições externas, o identitarismo envereda para o silenciamento e a censura dos discordantes.

(7) O identitarismo é nefasto para a educação e o debate. Se a vivência dá acesso imediato à verdade e o integrante do grupo é alguém que não pode ser contestado porque alcança esse conhecimento que ninguém mais possui, toda a investigação sobre o mundo social é inútil, para não dizer nociva.

(8 ) O identitarismo prejudica a ação unida dos dominados. Com uma luta voltada à construção de nichos e a negação a priori da possibilidade de diálogo e solidariedade entre os grupos dominados, o identitarismo veda a possibilidade de ação conjunta contra as estruturas de dominação – e se torna, assim, objetivamente um aliado da reprodução do capitalismo.”.

 

 

   
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