Praticamente todas as Câmaras Municipais do Paraná aumentaram os gastos com salários de vereadores da última legislatura em relação a atual. Em 44% das cidades, o acréscimo na remuneração representa 50% a mais nos gastos. Em 32 municípios, o subsídio dos vereadores mais que dobrou em relação a última composição das Casas. As informações são extraídas de um levantamento da Gazeta do Povo com dados do Tribunal de Contas do Paraná (TC-PR).
INFOGRÁFICO: Quem mais aumentou e quem mais diminui o salário de vereadores no PR
A comparação do volume de gastos com salários foi feita com base nas despesas das Casas em 2011 e 2014. Conforme os números, apenas dez Câmaras Municipais não elevaram em nada os custos com salários de vereadores ou até diminuíram o porcentual do orçamento gasto com esse tipo de despesa. O TC não possui dados completos sobre quatro Legislativos locais: Uraí, Itapejara D’Oeste, Jundiaí do Sul e São Manoel do Paraná.
A campeã no aumento de salários dos parlamentares foi a Câmara de Toledo, na Região Oeste do Paraná. Lá, de uma legislatura para outra, o gasto anual com subsídios de vereadores saltou de R$ 836,2 mil em 2011 para R$ 2,2 milhões em 2014 – uma diferença de 172%. Na lista de cidades com acréscimo de mais de 150% nos subsídios dos vereadores estão ainda Almirante Tamandaré, Pinhais e Colombo, todas na Região Metropolitana de Curitiba, além de Paranaguá, no Litoral, e Santo Antônio do Paraíso, no Norte Pioneiro.
"Não me parece razoável que o custo do Legislativo local seja tão elevado para a municipalidade."
Fabrício Tomio, da UFPR.
O impacto do acréscimo de gastos é mais sentido em cidades de pequeno porte. Em municípios com população de até 15 mil pessoas, por exemplo, o custo médio anual do vereador foi de R$ 58 por habitante em 2014 – R$ 16 a mais que em 2011. Já em cidades com mais de 70 mil habitantes, esse valor é, em média, de R$ 9 ao ano – R$ 3 de aumento em relação há três anos. Em cidades de porte médio, esse valor subiu de R$ 16 para R$ 23.
O aumento no subsídio de vereadores não é ilegal, desde que respeitado o teto estabelecido pela Constituição, que determina porcentuais máximos considerando o salário dos deputados estaduais e a população de cada cidade. Segundo a lei, o valor despendido com subsídios de todos os funcionários das Casas não pode ultrapassar 70% do orçamento de cada uma. Só os salários de vereadores não podem ultrapassar 5% da receita do município.
Porém, as despesas das Casas Legislativas com salários de políticos têm sido alvo de protestos em todo o estado. Movimentos populares que reivindicam a redução de salários de vereadores começaram em Santo Antônio da Platina, no Norte do estado, em julho. Depois, foi a vez dos vereadores de Jacarezinho, na mesma região, baixarem os próprios salários devido à pressão popular. Desde então, outros municípios do Paraná têm seguido a mesma trajetória.
Para o professor de Administração e Finanças Públicas da UnB José Matias Pereira, a reivindicação da população é positiva, já que, com os aumentos subsequentes, os municípios têm comprometido cada dia mais suas receitas com folha de pagamento.
“Com a irracionalidade aplicada a esse tipo de despesa, os próprios servidores terão dificuldade de receber os salários na medida em que há um processo de estrangulamento de gestão”, diz.
Katna Baran
As Câmaras Municipais no Paraná gastaram, em média, 21% dos seus orçamentos apenas em salários de vereadores em 2014. Há, porém, uma grande distinção de porcentual entre pequenos e grandes municípios: em cidades menores, os gastos com subsídios de parlamentares podem chegar a 70% do orçamento das Casas. Já em municípios maiores, esse valor representa geralmente menos de 10% de todo orçamento do Legislativo.
A pequena Bom Jesus do Sul (com 3,8 mil habitantes), no Sudoeste do Paraná, por exemplo, desembolsa praticamente 70% do orçamento da Câmara Municipal com salário de vereadores. Já na Câmara de Curitiba, o subsídio dos parlamentares representa apenas 5% da receita total da Casa. Ao mesmo tempo, enquanto que um vereador de Bom Jesus do Sul recebeu em média R$ 2 mil de salário em 2014, um parlamentar da capital ganhou R$ 13 mil.
A partir dessa comparação, o cientista político da UFPR Fabrício Tomio observa que é difícil mensurar se o gasto com subsídios dos políticos é justo ou não. “No caso de Curitiba, por exemplo, mesmo que os vereadores não recebam qualquer salário, o custo da Câmara Municipal continuaria absurdo”, diz. Essa discrepância acontece, principalmente, pelo volume de atribuições de Câmaras de cidades de grande porte.
Para Tomio, assim, além do subsídio, os movimentos populares devem reivindicar a redução dos gastos do Legislativo como um todo. “Não me parece razoável que o custo do Legislativo local seja tão elevado para a municipalidade e para os cidadãos, sobretudo considerando outras demandas que eles podem ter. É preciso diminuir os gastos, o que não representa uma diminuição do Legislativo, mas uma adequação à expectativa do cidadão”, aponta.
Clique aqui para conferir a matéria completa e o infográfico elaborado pela Gazeta do Povo.
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