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Sequelas da batalha do Centro Cívico

  • 11 de maio de 2015
Entre manifestantes e policiais, pelo menos 22 mil pessoas estiveram no Centro Cívico durante o protesto de 29 de abril, quando o local virou um campo de batalha. Todos sujeitos a sequelas. Osso quebrado, cicatriz no rosto e perda da audição são algumas delas. Manifestantes machucados contaram suas histórias à Gazeta do Povo. Independentemente da gravidade do dano físico, todos têm algo em comum: estresse pós-traumático.
 
“Algumas pessoas devem estar com sequelas emocionais. Não conseguem dormir. Você vive uma situação e acha que vai morrer”, comenta o professor de Psicologia da Universidade Positivo, Raphael Henrique Castanho Di Lascio. Para os estudante Ícaro Moura e Taciane Grassi e para a professora Rafaelin Poli, o pânico virou realidade.
 
Ícaro perdeu parte da sobrancelha e ficou com uma cicatriz permanente na testa. Taciane perdeu 60% da audição e ainda não sabe se precisará de cirurgia para se recuperar. Já a professora se sente quase otimista: “Só quebrei um dedo”.
 
Segundo o professor Di Lascio, que integra a Associação Internacional de Prevenção ao Estresse, situações como a do Centro Cívico têm o efeito emocional de um acidente. Durante o momento de confusão, a adrenalina vai às alturas, o que intensifica emoções, como o medo e a raiva. Quando a adrenalina baixa, vem o abalo moral, psicológico. “As pessoas se sentem violentadas, seja pela polícia ou outra forma de repressão que exista ali. E ninguém está preparado para ser agredido, ninguém tem isso como situação normal de vida”, explica o psicólogo.
 
Investigação
 
Reunir pessoas que estão traumatizadas, abaladas ou com sequelas físicas é um dos objetivos do Comitê de Direitos Humanos 29 de abril. O espaço, criado na última quarta-feira (6), congrega entidades como o sindicato dos professores (APP) e a Defensoria Pública do Paraná. “Não estamos aqui para julgar, mas para analisar os fatos. Não podemos fazer de conta que aquilo não aconteceu”, resume a ouvidora da Defensoria, Santa de Souza. O grupo recebeu a visita da ouvidora da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Irina Bacci. Ela veio a Curitiba apurar as 18 denúncias de violações a direitos humanos que a secretaria havia recebido até a data.
 
No Paraná, a investigação sobre possíveis abusos é de responsabilidade do Ministério Público Estadual (MP). Na última terça-feira (5), o órgão divulgou que 80 depoimentos e 150 mensagens eletrônicas com fotos e vídeos haviam sido coletados.
 
O material deve embasar o procedimento criminal instaurado pelo MP e o inquérito civil, em fase de preparação.
 
Confira os relatos de Ícaro, Taciane e Rafaelin, atingidos por estilhaços de bombas entre outros artefatos da força policial. Eles falam sobre a experiência e suas sequelas físicas e emocionais.
 
Cicatriz na testa e dificuldades para dormir
 
“Por volta de 14h10 eu estava lá, no meio do povo, próximo ao cordão de isolamento dos policiais. De repente, estava todo mundo correndo, gritando ‘sem violência, sem violência’. Eu estava de pé quando falaram no carro de som que era para sentar no chão, para mostrar que a gente não estava reagindo. Quando fui me sentar, com as mãos levantadas, uma granada explodiu no meu pé. Foi estilhaço na perna, na coxa e no rosto, testa e sobrancelha. Eu não ouvia nada em volta de mim, tudo muito abafado, achei que estava surdo. O sangue desceu no meu olho e achei que tinha ficado cego. Comecei a correr, pedindo água. Não sentia dor, só um desespero muito grande. Minha amiga me encontrou e falou ‘cara, você está muito machucado’. Fomos até a prefeitura e vi que tinha gente desmaiada, passando mal, pensei ‘deixa essa galera ir primeiro para o hospital, eu posso esperar’. Fizeram um curativo na minha cabeça, para estancar o sangramento. Voltei para o colégio, liguei para a minha mãe e até peguei o telefone do lado direito. É o costume, né, e por um momento eu esqueci que não estava ouvindo direito. No hospital levei cinco pontos na testa. Na sobrancelha não teve o que fazer porque ‘comeu’ um pedaço, não tem pele para costurar. O zunido no ouvido ainda não passou e dói um pouco. Na primeira noite eu acordava a todo momento e pensava ‘não, isso não aconteceu’. Eu passava a mão no rosto para ter certeza que era real. No segundo dia também não consegui dormir muito bem e estou tomando um calmante. De lá para cá a gente tenta se manter ativo, porque a greve não acabou.”
 
Ícaro Grassi, 17, estudante do 2.º ano do Colégio Estadual do Paraná.
 
Professora conta como teve o dedo quebrado
 
“No dia 29 pela manhã, eu já estava há quase dois dias sem dormir. Os helicópteros começaram a dar rasantes sobre o acampamento, levantando poeira e as barracas. Quando o caminhão de som avisou que estavam começando a votar o projeto do ParanaPrevidência houve muita confusão. Começou a vir pancada de tudo quanto é lado. Coloquei a mão no rosto e nisso veio um cassetete no meu braço, que acabou quebrando meu dedo. Por sorte tinha amarrado papelão como uma ‘armadura’ na perna. Mas não adiantou: senti muita dor e saí correndo. Quando cheguei no bosque da praça fiquei tentando apagar o fogo das bombas que caíam nas barracas. Os policiais corriam e parecia um videogame de guerra. Absurdo. Caí, inconsciente. Acordei perto de uma parede e só lembro de um menino de olhos verdes que estavam vermelhos de fumaça. Ele chorava e me arrastava. Mesmo machucada, fui ajudar outras pessoas no acampamento. Minha vida mudou muito depois disso. Eu ando com medo. Sinto cheiro de gás, de pólvora estourando. E com qualquer barulho eu fico pensando ‘meu Deus, é aqui? Não é?’. Fui três vezes no posto de saúde 24h do Boa Vista e fiquei quatro horas esperando. Meu dedo ficou uns cinco dias inchado até colocarem a tala. Sou do PSS, não tenho sistema de saúde e vou ter que ir num hospital particular. Não sei como vou pagar, porque ainda não recebi salário este ano. Ainda estou me recuperando dos fungos no pé do primeiro acampamento da greve, lá em fevereiro.”
 
Rafaelin Poli, professora de artes nos colégios estaduais Maria Teixeira Braga e Ivanete Martins de Souza, em Piraquara.
 
Estudante de 17 anos perdeu 60% da audição
 
“Eu estava na frente do prédio do Tribunal de Justiça quando a confusão começou e a gente ergueu as mãos, gritando ‘sem violência’. Um objeto que eu acho que era uma pedra veio voando de onde estavam os policiais. Meu amigo falou ‘não se desespere, mas sua cabeça está sangrando’. Coloquei a mão, vi o sangue, e fiquei desesperada, é claro. Na ambulância o rapaz me deu iodo e disse ‘não tem mais como te ajudar, porque caiu bomba nos equipamentos’. Aí voltei para o bosque, porque sentia a necessidade de estar ali. O choque avançou jogando bombas no acampamento e a gente corria para tampar as bombas com a caixa de papelão, para não explodir na galera. Na hora que eu cobri uma com a caixa, uma moça caiu do meu lado. Me abaixei para arrastar ela e vieram três bombas. Só ouvi aquele pow, um zunido, e um ‘pi’ eterno. Saí correndo, sem respirar, e fiz um gesto para um amigo mostrando que não conseguia ouvir nada. Cheguei na prefeitura com o meu ouvido já sangrando, e também passaram iodo. Fui para o 24 horas do HC, mas não tinham equipamento para ver meu ouvido. No outro dia minha mãe me levou no médico e ele deu o laudo: perdi 60% da audição no ouvido esquerdo. Vou ter que esperar de três a quatro meses para diminuir a inflamação, ver se a audição melhora. Mas tudo indica que queimou o tímpano, e aí só cirurgia resolve. Na hora a gente não pensa muito. Vi professor meu caído no chão. Eu olhava para as pessoas e dizia ‘me dá um abraço agora’, no meio das bombas. Elas me abraçavam e a gente continuava. Só o que eu consigo pensar é por quê? Qual a necessidade daquilo?”
 
Taciane Grassi, 17, aluna do 3.º ano do Colégio Estadual do Paraná.

Fonte: Gazeta do Povo

   
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