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A pilha de areia

  • 29 de setembro de 2020

O que não sabemos sobre ela é quando vai desmoronar e qual vai ser o tamanho do desmonte. Portanto, as pilhas de areia são como as pandemias

Foram seis meses, mas parece que foi ontem. Quando comecei a fazer transmissões diárias sobre os efeitos econômicos da pandemia no canal que tinha — mas quase nunca usava — no YouTube, não pensava que tantas pessoas assistiriam a elas. Tampouco pensava que o que ali dizia, reflexões sobre o estado da economia como disciplina, sobre os desafios da pandemia, sobre a necessidade de pensar de modo multidisciplinar, além dos temas que iam surgindo diariamente, seria o embrião para o livro que acabo de lançar hoje. O livro chama-se Ruptura e integra uma série intitulada A pilha de areia. Serão mais dois livros além desse primeiro. Quiçá serão mais do que dois livros, a depender da evolução do quadro doméstico e internacional.

Por que A pilha de areia? Primeiro, porque gosto muito da imagem. Traz a praia, o mar, um dia de sol no Rio de Janeiro, memórias da infância. Em segundo lugar porque adoro Borges, o escritor da areia, do tempo, do infinito, da finitude ante o infinito. Por fim porque tudo que sabemos sobre as pilhas de areia, toda a certeza que temos sobre elas, é que desmoronam. Elas não crescem sem limites, tampouco ficam estáticas. O vento, a onda do mar, um grão a mais no topo, e elas se vão.

O que não sabemos sobre as pilhas de areia é quando elas vão desmoronar e qual vai ser o tamanho do desmonte. Portanto, as pilhas de areia são como as pandemias. Há décadas cientistas nos alertam que a próxima pandemia não era uma questão de “se”, mas sim de “quando”.

Iniciamos o século XX com uma imensa pandemia — a gripe que ceifou dezenas de milhões de vidas no planeta entre 1918 e 1919. Depois, tivemos o surto da gripe aviária em 1997, o surto de sars em 2002 e 2003, outra gripe aviária em 2005, e o H1N1 em 2009. O ebola continua a assustar os cientistas pois há uma possibilidade de que o vírus algum dia sofra mutação que o torne mais transmissível. Aliás, os vírus detêm a maior biodiversidade do planeta. Portanto, a certeza sobre a ocorrência de futuras pandemias é fato. O que não sabemos é quando haverão de ocorrer, nem quão graves serão.

Pilhas de areia, as pandemias. Elas também nos remetem ao tempo, ao infinito, e à finitude perante o infinito. Quis que a série inteira sobre a pandemia de Covid-19 e seus efeitos sobre a economia refletisse esses conceitos. O primeiro livro trata do desmoronamento, do ponto crítico, da mudança de estado do mundo — da passagem de algo que conhecíamos para outra coisa que ainda teremos de entender e construir. Ele aborda a ruptura, os desafios enfrentados pelas pessoas e pelos países. Ele traz reflexões sobre a economia e a política econômica, pois a economia também é uma espécie de pilha de areia. A certeza de que seus preceitos serão postos à prova pelas circunstâncias é inequívoca, o que não se sabe é como isso haverá de refletir no ensino da disciplina, nas recomendações de política econômica, no debate público.

Ruptura, o primeiro livro da série, é e não é um livro “de economia”. Ele trata da economia, mas não foi escrito para economistas. O livro foi escrito para qualquer pessoa interessada em refletir sobre o momento que atravessamos, mas que encontra nos jornais e nas abordagens econômicas algo inacessível. Jargões, conceitos muitas vezes confusos, análises herméticas, essa é a abordagem tradicional da economia, dos economistas, de muitos — não todos — que escrevem sobre economia. Para fugir disso, escrevi o livro como se conversasse com alguém que pouco soubesse “de economia”. A linguagem é coloquial, não há presunção de conhecimento prévio por parte do leitor, os gráficos e imagens que acompanham o texto foram todos desenhados à mão.

Nos últimos dias concedi entrevistas como parte do esforço de divulgação do livro, o que é sempre ótimo. Mas muitas vezes as entrevistas não permitem que se diga tudo que se quer dizer. Portanto, usei este espaço para explicar a todos vocês que acompanham semanalmente esta coluna as várias razões de ser dessa empreitada. E, claro, há algo de pessoal na ruptura retratada. Mas sobre isso escrevo outro dia.

Monica de Bolle é Pesquisadora Sênior do Peterson Institute for International Economics e professora da Universidade Johns Hopkins

FONTE: O GLOBO

 
   
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