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Como os vírus afetam a economia?

  • 10 de setembro de 2020

O desenvolvimento de vacinas induzido pela existência de vírus é um indutor de progresso tecnológico e avanços na produtividade, resultando em melhorias para a população

A pergunta que intitula este artigo parece óbvia. Afinal, temos sido testemunhas das hemorragias econômicas mundo afora refletidas nas quedas históricas dos PIBs de diversos países na primeira metade de 2020. Como vimos recentemente, o Brasil não foi exceção com o registro de 9,7% de encolhimento da atividade econômica no segundo trimestre do ano após a queda de 2,5% no primeiro. Em apenas seis meses, regredimos 11 anos. O nível do PIB brasileiro hoje é semelhante ao de 2009. Curiosamente, o ano de 2009 foi marcado por outra pandemia, a do H1N1, que começou no México e asfixiou sua economia. À crise financeira de 2008 somaram-se os temores de que o surto global de H1N1 pudesse ser a grande pandemia sobre a qual epidemiologistas alertavam havia décadas. Tais temores podem ter sido responsáveis pelo adiamento da recuperação econômica após medidas excepcionais de estímulos. Em resumo: não é preciso muito exercício mental para afirmar que os vírus são prejudiciais para as economias. Principalmente quando governos não têm estratégias ou respostas adequadas.

Sobre os vírus, sua imensa diversidade e ubiquidade, a revista The Economist publicou recentemente um ensaio primoroso intitulado “The viral universe” (“O universo viral”). Diz o ensaio: “O vírus não é uma coisa, mas um processo”. Como assim? Vírus não são células, mas material genético encapsulado por capsídeos. Quando fora das células, são vírions. Quando dentro das células, injetam seu material genético e utilizam com eficiência os mecanismos de transcrição e tradução para sintetizar as proteínas que os ajudarão a se proliferar. O único interesse dos vírus é se proliferar — não têm o interesse de colonizar ou algo parecido. O processo de proliferação viral mata as células hospedeiras, mas esse é, do ponto de vista dos vírus, tão somente um efeito colateral. Vírus matam mais do que qualquer predador no planeta e são ubíquos: estimativas sugerem que 1 quilo de terra contém cerca de 1 trilhão de vírions. Portanto, há razão de sobra para temê-los, pois destroem vidas, economias e não há nada tão numeroso quanto eles neste planeta. Mas então acaba aqui o artigo? Não.

Muitos vírus infectam bactérias — são os bacteriófagos. Bactérias, como sabemos, também causam grandes estragos na economia. Há exemplos e mais exemplos, mas tratemos da tuberculose. Segundo vários estudos recentes, o impacto socioeconômico da tuberculose (TB) resistente aos tratamentos usuais é brutal. Para cada família afetada, a perda de renda, sobretudo se o (a) paciente é o (a) provedor (a), pode chegar a mais de 60%. Além disso, mais da metade dos pacientes infectados pela TB resistente perde o emprego por invalidez. O que os vírus têm a ver com isso? Imaginem um cenário em que exista um vírus com gosto particular pelo bacilo da tuberculose.

Esse vírus invade a célula do bacilo, toma posse de seus mecanismos de replicação e, no processo, mata o agente causador da tuberculose.

Parece ficção científica? Pois não é. Há estudos em andamento para avaliar a capacidade de usar bacteriófagos contra a tuberculose resistente (ver, por exemplo, esse artigo de 2019).

Como estamos a ver no desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19, também podemos usar vírus como vetor para induzir uma resposta imunológica. Nesses casos, escolhe-se um vírus já conhecido, modifica-se seu material genético para que possa carregar um antígeno do sars-CoV-2 — antígenos são moléculas virais, como um pedaço de proteína viral — e injeta-se esse vírus no paciente. O antígeno não provocará Covid-19 no paciente, mas, se tudo correr bem, ele suscitará uma resposta do sistema imunológico. No melhor dos casos, o sistema imunológico do paciente vacinado dessa forma agora será capaz de reconhecer o vírus caso entre em contato com ele e responder de modo a debelar a infecção. Os investimentos destinados ao desenvolvimento desse tipo de tecnologia, além do próprio avanço tecnológico atrelado a esses esforços, têm efeitos diretos na economia. Ou seja, o desenvolvimento de vacinas induzido pela existência de vírus é um indutor de progresso tecnológico e avanços na produtividade, resultando em melhorias para a população e para a economia como um todo.

Em falas recentes, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não se deve obrigar as pessoas a serem vacinadas. Tentou usar a economia como desculpa numa lógica desconexa. Que os vírus deem cabo desse raciocínio com a mesma eficiência destrutiva e potencialmente salvadora que possuem.

Monica de Bolle é Pesquisadora Sênior do Peterson Institute for International Economics e professora da Universidade Johns Hopkins

Fonte: O GLOBO

 
   
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