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Seis perguntas para ricardo gazzinelli, imunologista que trabalha em vacina para a covid-19

  • 29 de julho de 2020

Rafael Garcia - Cientista da Universidade Federal de Minas Gerais, cujo projeto une o vírus da gripe ao do coronavírus, avalia como está a corrida global pela descoberta de uma proteção contra a doença

1. Já existem três vacinas com resultados bons em humanos, entre elas a de Oxford em parceria com a AstraZeneca, em teste no Brasil, e a da empresa de biotecnologia Moderna. Há motivos para otimismo?

Eu acho que um ponto crítico que estão mostrando é que elas induzem bons níveis de anticorpos. Isso é um primeiro bom sinal, mas existem duas questões. A primeira questão é que eu não sei de nenhuma fábrica que hoje venda como produto vacina comercial de RNA (como é o caso da produzida pela Moderna) ou de adenovírus. A segunda questão é que os testes clínicos projetados agora não são de longa duração. Então, nós não sabemos direito qual vai ser a persistência desses anticorpos. E o teste derradeiro mesmo é esse de fase 3, que está sendo feito no momento. A fase 3 é que vai dizer se há ou não proteção contra o coronavírus, e ainda não temos resultados. Analisei o trabalho da Moderna e da AstraZeneca e desse grupo chinês CanSino, e parece que a resposta foi favorável. Mas a maior parte dos projetos de vacina morre na fase 2 ou na 3. Temos uma sinalização positiva, mas temos de aguardar a fase 3, que é a etapa decisiva.

2. As empresas têm dito que no cenário mais otimista seria possível ter uma vacina em menos de um ano. Qual é a previsão mais realista?

Eles estão falando de no fim do ano já estar distribuindo vacina, acho otimista demais. Uma coisa é a AstraZeneca e a Sinovac produzirem a vacina. Outra coisa é disponibilizarem essa produção para o Brasil. Para o Brasil estar produzindo, acredito que isso irá até o fim do ano que vem, pelo menos. Mas é difícil saber exatamente os detalhes. O fato de já estar fazendo os testes clínicos é uma vantagem.

3. Muitos estudos estão apontando que os pacientes que se recuperam do coronavírus adquirem anticorpos, mas param de produzi-los depois de alguns meses. Essa queda de desempenho pode ocorrer com as vacinas também?

Bom, uma coisa é a questão da imunidade duradoura induzida pela infecção com coronavírus. É natural que numa fase aguda você tenha uma produção de anticorpo alta, e com o tempo ela vá caindo. Outra pergunta é quanto tempo dura essa resposta específica de anticorpo, e se essa resposta de anticorpo que persiste é protetora ou não. Existem poucos ou nenhum caso de reinfecção com coronavírus descrito de maneira sistemática que convençam que há uma reinfecção. Se não há reinfecção até hoje, o que nós podemos falar é que num período de seis meses essa resposta imune é protetora. Daqui a um ano nós vamos procurar saber se as pessoas estão se reinfectando ou não. Agora, quanto à vacina, o que determina se a resposta imune é duradoura é a “formulação” da vacina. Quando você usa numa vacina um vírus vivo, enfraquecido, a tendência é que a resposta seja mais duradoura. Quando você usa um vírus inativado ou uma proteína, a resposta imune é mais curta, e aí você tem de dar várias doses. Por exemplo, o vírus da febre amarela é um vírus atenuado, “enfraquecido”, e a resposta imune dura dez anos ou talvez até a vida inteira. Já a vacina da raiva você tem de dar frequentemente, porque ela é um vírus inativado. Além disso, existem dois tipos de imunidade, você tem a resposta dependente de linfócito T e a dependente de anticorpos. Muitas pessoas estão advogando que o linfócito T é mais importante que o anticorpo, porque a resposta de anticorpo cai, e o indivíduo continua protegido porque não há reinfecções. Mas ainda não existe clareza sobre isso. A princípio, anticorpo é muito importante, mas pode ser que os dois sejam muito importantes. O conhecimento está evoluindo.

A busca pela vacina mobilizou cientistas de todo o mundo. Mais de 160 projetos estão em andamento. Foto: Nicolas Asfouri / AFP

A busca pela vacina mobilizou cientistas de todo o mundo. Mais de 160 projetos estão em andamento. Foto: Nicolas Asfouri / AFP

4. O senhor acha que será possível que as primeiras vacinas já ofereçam proteção de longa duração? As vacinas para o coronavírus serão como as de gripe, que precisam ser administradas todo ano?

É isso que vai depender do tipo de formulação vacinal, mas eu diria que seria ganhar na loteria ter a melhor vacina logo de cara. Agora, se a gente tiver uma vacina hoje que proteja contra as formas graves da doença, já é um avanço enorme. Pode ser que ela até não proteja contra infecção, mas proteja contra a doença na maioria das pessoas. Você então vacinaria o grupo de risco. Se diminuir o número de mortalidade significativamente, já é um avanço enorme.

5. A OMS lista mais de 160 projetos de vacina em desenvolvimento para a Covid-19 mundo afora. O senhor imaginava que surgiriam tantos?

Não. Realmente é uma coisa espetacular o que aconteceu em termos de avanços de tecnologia, da rapidez com que se está desenvolvendo vacina. Para desenvolver uma vacina para humanos levava cinco ou dez anos. Se a gente conseguir uma vacina em dois anos é um recorde; se conseguir em menos, então, nem se fala. A grande diversidade de vacinas também é importante, porque não sabemos qual vai ser a qualidade da resposta imune induzida por essas vacinas que estão mais na frente agora. Então, acho que nós devemos continuar desenvolvendo vacinas. Nem sempre a que chega primeiro é a melhor.

6. O senhor também está desenvolvendo uma vacina. Como estão indo os trabalhos?

Nós ampliamos um pouco o escopo. Nossa ideia é fazer uma imunização por via nasal para estimular bem a imunidade de mucosa na via nasal, que é a porta de entrada do coronavírus. Uma das ideias também é ter uma vacina bivalente, contra as duas doenças, então ela teoricamente funcionaria para as duas infecções, gripe e Covid-19. Estamos testando a imunogenicidade em camundongo, e acreditamos que vamos ter o resultado até o comecinho de agosto.

Edição n.º 1150 da Revista Época
   
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