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O dedo sujo da Fiesp

  • 19 de junho de 2020

Uma vez mais, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) empreendeu dinheiro e esforços para golpear o Estado brasileiro. Antes, havia sido a campanha do pato de banheira. Aquela na qual os industriais se colocavam como vítimas dos tributos que são pagos — na verdade, pelos consumidores  — e eram contra uma mudança nos impostos. Mas essa história merece outro artigo.

Em maio de 2018, foi o lançamento — com direito a boneco inflável — da campanha “Chega de engolir o sapo”, na qual combatia os juros altos, sem, contudo, enfrentar o sistema financeiro. Agora, a campanha veiculada na TV aberta e nas redes sociais é contra a derrubada do veto presidencial, defendido pelo ministro Paulo Guedes, ao dispositivo que abriria a possibilidade de reajustes a servidores públicos até 2021, contido na Medida Provisória (MP) nº 909, do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19) para estados, Distrito Federal e municípios, que se transformou, no último dia 28 de maio, na Lei Complementar 173, de 2020.

Inevitável pensar sobre o que levaria uma federação patronal, ligada à inciativa privada, a despender investimentos para um pleito acessório — impertinente e periférico à sua atuação — num momento em que seus esforços deveriam estar voltados para a saúde das empresas federadas e dos seus funcionários. Parece-nos haver duas possibilidades: seduzir o mandatário da Economia — do qual o presidente da Fiesp cada vez mais se aproxima — ou, pior, interpor mais uma cortina de fumaça para encobrir a inoperância e a inaptidão da própria federação para enfrentar os problemas estruturais e sistemáticos da indústria brasileira.

Nas duas últimas décadas, boa parte da indústria paulista vem se especializando na terceirização; primeiro, na produção de componentes, depois, na fabricação completa de produtos, dos mais elementares aos mais complexos. Produtos pouco sofisticados, como bermudas ou sombrinhas, são fabricados — muitos com matéria prima brasileira — e importados da China, Tailândia, Índia, Cingapura. Tanto, e a tal ponto, que ,jocosamente, muitos dizem que a Fiesp se transformou na “Federação das Importadoras do Estado de São Paulo”.

 

Desde então, a Fiesp se dedica à terceirização da culpa pelo mau desempenho da indústria brasileira. Já a partir de 2004, primeiro ano da gestão de seu atual presidente, a autocrítica da indústria paulista é cada vez menos exercitada. A ausência da inovação e de competitividade é atribuída a fatores externos ao negócio. Primeiro, a culpa foi atribuída aos impostos, depois aos juros, até chegar, finalmente, aos salários do funcionalismo público(!).

Para a Fiesp, o problema são os outros, o que quer dizer, tudo aquilo que, para ela, compõe o “custo Brasil”. Essa manobra permite à Fiesp, maliciosamente, omitir as “despesas” decorrentes do modus operandi utilizado por boa parte do empresariado na participação em licitações, lobbies, cartéis, sonegação, descaminhos, planejamento tributário abusivo e suas imbricações nas políticas governamentais.

Em sua inaptidão para o reconhecimento das próprias falhas, a direção da Federação de Indústrias busca culpados por toda parte. Com isso, permite-se negar suas próprias responsabilidades, seus desacertos, sua inoperância e, claro, seus erros estratégicos.

Os desafios que a nova ordem econômica mundial traz para a indústria brasileira são conhecidos. Ninguém há de negar a complexidade e a quebra de neutralidade do sistema tributário. Da mesma forma, os juros altos. Inexplicável é a falta da luta franca que se espera, da indústria, por melhorias nos sistemas tributário e financeiro brasileiros. Despreza a chance de ajudar a conter as forças que atuam em desfavor da indústria paulista. Volta-se agora contra os salários do funcionalismo público.

Para o Brasil e para a indústria paulista, melhor seria que a Fiesp se ocupasse com a superação de seus muitos problemas e limitações, limpando na própria roupa o dedo sujo com que aponta para tudo que lhe é externo. Sem isso, sua próxima campanha terá como símbolo um avestruz inflável.

Por Rodrigo Spada*

(*) É auditor fiscal do Estado de São Paulo e presidente da Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite).

FONTE: Correio Brasiliense

   
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