O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ), afirmou ontem que desistiu da articulação política da reforma da Previdência porque foi mal compreendido no movimento de negociar a formação de uma base governista capaz de votar o projeto e ficou "levando pancada" do presidente Jair Bolsonaro e de seus eleitores. "Não vou ser mulher de malandro, ficar apanhando e achar bom."
"Agora, não tenho mais as condições que eu tinha até um mês atrás de ser o articulador da reforma. O que posso fazer é o seguinte: se o governo quiser votar no dia 15 de junho, eu pauto. Se o governo vai ganhar, isso é pergunta para o ministro [da Casa Civil] Onyx", afirmou, no evento "E agora, Brasil?", organizado pelos jornais Valor e "O Globo".
Maia reforçou que é a favor da reforma, mas que não sairá negociando com governadores e outros segmentos a votação do projeto. "Não vou mais ficar falando de prazos nem de votos", comentou. Disse que a data de votação, se "um mês antes ou depois", é "irrelevante", e que o mais importante é alcançar a economia de R$ 1 trilhão em dez anos prometida pelo governo. "Se conseguir R$ 500 bilhões em junho e R$ 1 trilhão em agosto, é melhor votar em agosto porque é impacto de longo prazo", ponderou.
O presidente da Câmara brincou e disse que não ficar a frente da reforma "facilita minha vida" porque ele já precisa coordenar 512 deputados. "Não estou chateado. Compreendi que poderíamos fazer governo de coalizão. O presidente discorda. Talvez eu esteja equivocado sobre como deveria funcionara articulação", disse. Em outro momento, afirmou que a relação que o governo deseja é que ele ocupe seu papel institucional como presidente da Câmara e é isso que ele fará.
Para o parlamentar do DEM, os deputados que não querem aprovar a reforma porque isso significaria fortalecer Bolsonaro e abrir caminho para a reeleição dele em quatro anos "não faz sentido". O desgaste dos políticos ocorreu, na opinião dele, porque não há mais dinheiro para atender as demandas da população e, quando o presidente da República está desgastado, isso atinge também o Congresso, prefeitos e governadores.
Ao comentar a queda de popularidade de Bolsonaro, Maia destacou que, "em tese", com um presidente mais fraco "pode ser mais fácil até para aprovar uma reforma" e minimizou apenas 30% da população apoiar o presidente, dizendo que é um número razoável para um país que vive cinco anos de crise econômica e política. A perda de popularidade, afirmou, "é natural, pela forma que o presidente se porta nos primeiros três meses, estimulando a polarização" na sociedade.
O presidente da Câmara deu ainda uma alfinetada em Bolsonaro quando questionado se os deputados terão responsabilidade fiscal ou votarão a pauta-bomba. Disse que foi procurado pelo presidente no fim do ano para aprovar a anistia as dívidas do Funrural, mas alertou que teria um impacto de R$ 30 bilhões e que era melhor esperar o governo assumir para discutir melhor. "A Câmara nunca será instrumento para gerar problema para a questão fiscal", afirmou.
No evento, Maia já sinalizou com um armistício e, embora tenha defendido que o Congresso retome o poder que abriu mão nos últimos anos, disse que não pautará a proposta de emenda à Constituição (PEC) que muda o rito das medidas provisórias (MPs). Defendeu, por outro lado, a aprovação da PEC que torna todos os investimentos do Orçamento de execução obrigatória.
Já a reforma tributária será pautada após a da previdência e em sintonia com a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, inclusive com um relator escolhido em conjunto. O mesmo ocorrerá com o relator da reforma da Previdência na comissão especial. Se não for assim, reforçou, "não tem como aprovar nada".
Fonte: Valor Econômico
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