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Richa à Folha de S. Paulo: “Não falei que não ia mexer na Previdência”

  • 27 de fevereiro de 2015

Com o segundo maior deficit de 2014 do País e uma dívida de R$ 1,5 bilhão com fornecedores, governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) nega má gestão e diz que endividamento foi ato de coragem:

 

“O que interessa para a população são as obras. As dívidas, nós vamos administrando”, declarou em entrevista à Folha de S. Paulo.

Questionado sobre possível estelionato eleitoral para se reeleger, ele diz: “Mas ninguém me perguntou se eu ia mexer na previdência”; pacote de ajustes financeiros do tucano prevê a retirada de R$ 8 bilhões do fundo previdenciário destinado ao pagamento dos aposentados e pensionistas e que passaria ao caixa único do governo.

Ele atribui a situação no Estado à economia do País: ‘O Paraná não é uma ilha. No ano passado, nosso orçamento não se confirmou, porque foi baseado em projeções e expectativas anunciadas pela própria presidente. “A economia está aquecendo, vai crescer 5%…” Não houve isso’.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista de Beto Richa:

ENTREVISTA BETO RICHA (PSDB)

O que interessa à população são as obras
GOVERNADOR DIZ QUE INTERVENÇÕES NECESSÁRIAS NO PR O LEVARAM A GASTAR MAIS DO QUE DEVERIA

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA

À frente de uma grave crise financeira e alvo de greves e protestos, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), assumiu, em entrevista à Folha, que gastou mais do que deveria, mas diz que foi por “coragem” de fazer as obras de que o Estado precisava.

“O que interessa para a população são as obras. As dívidas, nós vamos administrando”, declarou.

O Paraná foi o Estado com o segundo maior deficit em 2014, atrás apenas do Rio.

Após a reeleição, Richa atrasou o pagamento de férias, cortou funcionários da educação e aumentou impostos, além de propor cortar benefícios dos servidores.

O governo deve R$ 1,5 bilhão a fornecedores. Acusado por fornecedores de má gestão, Richa nega e culpa o desempenho econômico do país.

Folha – O Paraná enfrenta uma crise. Gastou mais que arrecadou e teve um deficit bilionário. Faltou planejamento?

Beto Richa - Houve planejamento, sim. O Paraná hoje é muito melhor que antes. E as dívidas, estamos administrando. O que interessa para a população são as obras.

Quando eu assumi, herdei R$ 4,5 bilhões de dívidas. Contratei 10 mil policiais, 23 mil professores, recuperei perdas salariais, fiz obras em todos os municípios.

Sim, atrasamos o terço de férias, a rescisão dos professores. Mesmo assim, é preferível isso do que faltar professor em sala de aula ou não ter policial na rua. Tirei o problema dos paranaenses e trouxe para mim. Vou fazer essa obra, vou contratar policiais. Depois resolvemos a situação. Os problemas foram pontuais. Para a população, foi vantajoso.

Foi imprudência ter gasto mais do que havia em caixa?

Não, não foi. Foi coragem. Pergunte lá em Londrina: a maior reivindicação era a duplicação da PR-445. Uma obra de R$ 100 milhões. Os técnicos me disseram: “Essa obra é cara, vai ser difícil…” Aí eu peitei. Vamos fazer.

Uma parte já foi inaugurada. O segundo trecho foi paralisado por dificuldades financeiras. Mas a obra é uma realidade, e vai ser tocada.

Se eu não tivesse tido coragem lá atrás, ela não teria acontecido. Se você ficar esperando ter dinheiro em caixa, não vai sair do lugar. A economia se deteriorou, tivemos problemas, mas a obra vai acontecer. É isso que importa para o cidadão.

Preservar a saúde fiscal do Estado também importa…

Mas as obras aconteceram e as dívidas estão sendo pagas. Estamos preservando.

É uma visão mais política do que técnica?

É uma visão de alguém que tem sensibilidade. E eu estou pagando o preço.

A presidente Dilma Rousseff (PT) também enfrenta dificuldades. A crise no Paraná enfraquece o discurso da oposição contra o governo federal?

Não, de forma alguma. Nós estamos todos no mesmo contexto. É uma crise nacional, que atinge a todos.

Mas como os tucanos poderão falar em austeridade depois do que aconteceu no Paraná?

Esse é um problema que nos foi imposto. O Paraná não é uma ilha. Todos foram atingidos. Nós fizemos a lição de casa, mas a crise nos afetou. No ano passado, nosso orçamento não se confirmou, porque foi baseado em projeções e expectativas anunciadas pela própria presidente. “A economia está aquecendo, vai crescer 5%…” Não houve isso.

Aécio Neves acusou a presidente de estelionato eleitoral. O sr. foi reeleito dizendo que as finanças estavam saneadas. É estelionato eleitoral?

De forma alguma. Nós fizemos o que prometemos, sim.

Eu disse que nós vínhamos equacionando as dívidas do Estado. Vínhamos. Eu estava saneando as contas e fazendo, investindo. Há contratações, obras. Nada disso existia. O Estado está avançando, e a dívida é administrável.

No caso da presidente, é diferente. Ela disse que não ia mexer em conquistas de servidores. E mexeu. Ela disse: “Nem que a vaca tussa”.

Mas o sr. é acusado exatamente da mesma coisa.

Mas ninguém me perguntou se eu ia mexer na previdência. Não falei que não ia mexer. Ao contrário. Chegou um momento que, com a queda de receitas e a economia se deteriorando, não dá mais para sustentar dessa forma.

Por que deixar esses ajustes para depois da eleição?

As coisas só se agravaram nos últimos meses de 2014. O primeiro pacote foi apresentado em dezembro, mas já vinha sendo elaborado antes.

Não teria sido mais transparente falar disso antes?

O planejamento era apresentar no final do ano.

Politicamente, o sr. sofreu uma queda de popularidade.

A vida do governante não é só dar boas notícias. Devemos também ter a coragem de apresentar medidas amargas, impopulares, mas fundamentais. Eu tive essa coragem. Mais para frente, as pessoas vão perceber. Minha popularidade oscilou, mas o que não pode oscilar é a coerência.

Houve recuos em medidas. Faltou habilidade política?

Houve um erro, mas foi involuntário. Nós tínhamos urgência em implantar essas propostas. Agora, retiramos e estamos discutindo. Eu sou do diálogo, do entendimento.

 

fonte: Esmael Morais

   
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