Mas só foram distribuídas pelo país 12 milhões de doses dos imunizantes CoronaVac e Oxford-AstraZeneca, quantia suficiente para vacinar apenas 6 milhões de pessoas — menos que 3% da população.
Além disso, a capacidade de produção do Butatan e da Fiocruz, para produção das vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca, esbarra no ritmo de importação de insumos da China."O Ministério da Saúde foi de uma miopia muito grande em não fazer aposta, em não investir na produção de vacinas antes do registro. Quem fez aposta e correu o risco foram Butatan e Fiocruz, a primeira apostando na CoronaVac e a segunda, na Oxford-AstraZeneca", critica.
"A questão agora nem é preço. É ter o produto. É de acesso mesmo."
Restou apostar na Sputnik V e na indiana Covaxin
Como boa parte dos lotes das vacinas com eficácia comprovada já foram negociadas, no curto prazo, o Brasil pode comprar o excedente ou apostar em vacinas que ainda despertam desconfiança ou que não concluíram a fase 3 de testes.
Vecina Neto cita como exemplos a russa Sputnik V e a indiana Covaxin. O Ministério da Saúde informa, em seu site, que negocia a compra de 10 milhões de doses da Sputnik V, entre março e maio, e outras 20 milhões de doses da Covaxin, para o mesmo período.
As duas vacinas ainda não apresentaram detalhes de testes clínicos para que a Anvisa possa liberar o uso emergencial.
A Sputnik V, especificamente, já foi alvo de críticas internacionais pela falta de transparência no processo de fabricação do imunizante. Mesmo na Rússia o ritmo de vacinação começou lento, porque a população questionava a eficácia da vacina.
Em 02 de fevereiro, o Instituto Gamaleya de Pesquisa da Rússia, responsável pela vacina Sputnik V, divulgou os resultados preliminares da vacina Sputnik V no renomado periódico científico The Lancet. Os dados revelaram uma taxa de eficácia de 91,6%.
O estudo de fase 3 que avalia a eficácia e a segurança deste imunizante envolve 20 mil voluntários e continua em andamento para avaliar a proteção ou possíveis efeitos colaterais em longo prazo. Outra importante observação do artigo publicado no The Lancet foi o fato de a Sputnik V ter funcionado bem em indivíduos acima dos 60 anos. Na análise de um subgrupo de 2 mil idosos, a eficácia também ficou na casa dos 91%.
A vacina, aplicada em duas doses com um intervalo de 21 dias entre elas, está aprovada em mais de 15 países, incluindo Rússia, Argentina, Paraguai e Venezuela.
No Brasil, a Anvisa está avaliando um pedido feito pela farmacêutica União Química, que tem um acordo com o Instituto Gamaleya para transferência de tecnologia. A empresa brasileira calcula que tem capacidade de fabricar e distribuir 150 milhões de doses do imunizante até dezembro de 2021.
Mas tudo depende de autorização da Anvisa.
No caso da vacina indiana Covaxin, especialistas em doenças infecciosas da Índia criticaram a aprovação emergencial no país do imunizante antes da conclusão dos testes de eficácia e segurança.
O controlador-geral de medicamentos da Índia, V. G. Somani, afirmou que a Covaxin é "segura e fornece uma resposta imunológica robusta".
Mas a entidade independente de vigilância de saúde All India Drug Action Network disse haver "preocupações significativas decorrentes da ausência de dados de eficácia", bem como uma falta de transparência.
"Eu não vejo problema nessas vacinas desde que tenham a fase 3 prontas. A Sputnik V não terminou de fazer estudo de fase 3. A Índia não terminou a fase 3 para a Covaxin. Tem que terminar e apresentar o resultado, é o padrão internacional. Tem que ter estudo com tamanho razoável, de entre 30 mil a 40 mil pacientes", opina o professor da USP.
Ritmo de vacinação pode acelerar a partir de março
Vecina Neto diz, porém, que o ritmo de vacinação deve acelerar a partir de março, quando está prevista a entrega de mais de 38 milhões de doses de CoronaVac e Oxford-AstraZeneca.
"A partir do final de março vamos passar a ter cerca de 30 milhões de doses por mês para vacinar. O ritmo de vacinação deve melhorar", afirma.
Mas, segundo o professor da USP, além de correr atrás do prejuízo nas negociações por vacinas, o governo federal precisa organizar uma campanha nacional de vacinação, com propaganda e divulgação em massa de informação.
"As pessoas vão vacinar porque são convocadas. Não tinha tido até hoje vacina, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações, que não tivesse campanha. Não houve campanha de vacinação para covid-19", diz.
"Falta divulgação, falta marketing, falta Zé Gotinha."
Fonte: BBC Brasil
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