Recentemente, embora esteja às voltas para contornar desastres ambientais que atingiram o país, o governo federal avançou na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/2019) e firmou o Acordo Setorial de Logística Reversa de Eletroeletrônicos com o setor empresarial.
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Nesse novo contexto de preocupação com um estilo de vida mais sustentável, em que os jovens consumidores buscam informações sobre os comportamentos empresariais antes de adquirir os produtos – quem empregam, se não há relações de trabalho escravo envolvidas, que tipos de materiais utilizam, que impacto ambiental geram -, é possível adotar um guarda-roupas mais "verde", ambiental e socialmente responsável.
Bruna Valente, filha da servidora aposentada Helena Valente, é uma estilista que busca desenvolver roupas observando práticas mais sustentáveis, tendo fundado a Tchá, uma camisaria de moda circular. Confira abaixo seu depoimento.
"Minha mãe, Helena Maria Valente Santos, sempre se preocupou e, portanto, nos educou (minha irmã mais velha e eu) dentro das lógicas de reuso e de reciclagem. No uso de roupas dos mais velhos pois eu era a caçula, no mobiliário da nossa casa com uma gama grande de móveis familiares herdados ou comprados em antiquários, no reuso da água do banho para a descarga, na separação dos lixos reciclável e orgânico …. portanto a necessidade de reciclar, reusar e/ou ressignificar sempre esteve presente em nossas vidas lá em casa, desde que éramos pequenas.
Um pouco antes de me formar em Moda no Senai PR, já percebia, durante um estágio em uma Malharia de Tricot , que o único assunto com o qual ninguém dentro dessa empresa se preocupava era com estas necessidades de reaproveitamento, reuso, reciclagem….
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Mas eu, na minha imaturidade emocional e profissional, olhava para aquele estado de coisas completamente despercebida, pensando que nada poderia ser feito e que o sistema funcionava assim e seria para sempre assim.
Algum tempo passou e logo, comecei a sonhar profissionalmente e decidi fazer uma pós-graduação em São Paulo e, aquela mudança para esta cidade multicultural abriu minha cabeça, para não dizer que a explodiu juntamente a toda minha noção de certo e errado, do que queria e do que não queria, do que eu era e do que não queria mais ser… Mudei!
Eu diria: um grande boom… um “boomzasso”, porém muito bom!
Foi nesta época que surgiu esta idéia de fazer algo… talvez uma marca, ou um ateliê focado em camisas com reuso de tecido (Eu sempre amei camisas. Minha mãe, de longe meu primeiro ícone fashion, sempre usou camisas). Sempre achei camisaria moderna, meio masculino meio feminino, práticas, enfim, queria lidar com camisas).
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Acabei passando 13 anos trabalhando sob a CLT na indústria (diga-se de passagem que foram grandes escolas: Santa Constância, C&A e Restoque). Até que em 2018, eu peguei uma grana guardada dos bônus que a C&A dava em épocas de boas vendas e decidi, de fato, investir na Tcha e, em janeiro de 2019, montei um plano estratégico para a Tcha. Até abril de 2019 já tinha, pelo menos, a imagem visual da marca, em junho consegui perceber como funcionavam as oficinas de produção, os preços médios e tinha já noção de quantas modelagens iria lançar e, em julho, comecei a testar a venda das primeiras camisas Tcha: camisas feitas com reuso de tecido!
Claro que tudo isso não fiz completamente sozinha, tive muita ajuda dos meus pais que sempre foram meu forte e minha base. Meu pai, Heitor Luiz Santos, acaba inclusive de fazer artesanalmente a primeira arara da Tcha! Já, nas questões de estratégia e de criação, pude contar com a ajuda das amigas maravilhosas Helena Pimenta e Paloma Villas Boas."