Incluir taxação progressiva no comunicado do G20 foi ‘enorme avanço’, diz presidente do Banco Mundial

Incluir taxação progressiva no comunicado do G20 foi ‘enorme avanço’, diz presidente do Banco Mundial

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Matéria original: Folha de São Paulo

Depois de quatro dias de reuniões e eventos relacionados ao G20 ao fim de julho, o executivo avalia que a presidência brasileira do grupo das maiores economias do mundo foi bem-sucedida e teve um "enorme avanço" ao fazer com que os demais países se comprometessem a fomentar o diálogo sobre uma tributação justa e progressiva no comunicado final.

Depois de passar por PepsiCo, Citibank e Mastercard, Banga assumiu em 2023 a chefia o Banco Mundial, instituição financeira internacional que fornece empréstimos e assistência técnica para países em desenvolvimento com o objetivo de reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável.

Por sua carreira como executivo, conhece Lula desde o início do seu primeiro mandato, em 2003, e se diz impressionado com a energia e o foco do presidente 21 anos depois.

Com tantas visitas ao Brasil, Banga virou fã de Brahma e do chef Alex Atala e um entusiasta da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do Bolsa Família.

Esbanjando uma simpatia típica dos brasileiros, Banga conversou com a Folha ao fim da reunião de ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do G20, no Rio de Janeiro.

Como foram as últimas reuniões do G20? Os objetivos da presidência brasileira foram alcançados?

Vejo um resultado relativamente bom para o Brasil, que colocou a fome e a alimentação na agenda. Agora, é preciso financiamento e implementação. O trabalho árduo será nos próximos três a cinco anos. Mas, por enquanto, é um bom avanço.

Há também um grande esforço para conectar as pessoas à reflorestação da Amazônia e ao trabalho que a ministra do Meio Ambiente está fazendo. Ela é simplesmente fantástica, aliás. Eu adoro o trabalho que Lula está fazendo na Amazônia porque isso faz com que você seja visto como um jogador responsável no mundo. Acho que vocês estão indo na direção certa.

O terceiro grande objetivo brasileiro é a tributação progressiva. Incluí-la no 'Communiqué' foi um enorme avanço.

Quais os maiores entraves para a implementação da tributação progressiva?

É desafiador, pois há muitas maneiras de implementá-la. Um imposto sobre valor agregado no consumo é considerado o imposto progressivo definitivo porque, se você consome mais, você paga mais. A Europa dirá que essa é a melhor maneira de fazer isso, mas nem todos os países pensam assim. E, mesmo dentro de um país, raramente há unidade sobre tributação. Se você colocar dez economistas para falar sobre tributação, eles te darão dez respostas diferentes.

Quando Warren Buffett diz que paga menos impostos do que sua secretária, isso acontece porque a renda dele é principalmente de ganhos de capital, enquanto a renda de sua secretária é salário. E os impostos sobre a salário são mais altos do que os impostos sobre ganhos de capital nos Estados Unidos.

Então, a questão não é que os ricos paguem mais. A questão é fechar as brechas que permitem que certos tipos de renda das pessoas sejam tratados de maneira muito diferente dos outros.

É um tópico muito complicado que o presidente [Lula] decidiu enfrentar. Se ele conseguir causar impacto para fazer as pessoas concordarem com a tributação progressiva, todos devemos pensar nisso como um resultado muito bom.

No início das discussões sobre a proposta do Brasil de taxar os ricos, a percepção era que os EUA eram fundamentalmente contra. O que mudou ao longo da presidência brasileira para a inclusão dessa proposta no comunicado final?

Os EUA eram contra o imposto sobre bilionários, que simplesmente diz que se 2% da riqueza de cada bilionário fosse tributada, em teoria, você poderia arrecadar entre US$ 200 bilhões e US$ 300 bilhões, embora seja difícil estimar a riqueza real dos bilionários.

O problema é que muitos deles têm dinheiro preso em ativos ilíquidos. Propriedades, fábricas, participações em empresas. Elon Musk, por exemplo, dependendo do preço da [ação da] Tesla, sua fortuna sobe e desce dezenas de bilhões. Se você pensar na situação dele, como ele faria, se tivesse que pagar 2% todo ano? Ele teria que vender ações todo ano. Não é como se ele tivesse US$ 50 bilhões em dinheiro.

Então, impostos sobre renda e impostos sobre riqueza são coisas muito diferentes. E acho que você tem que pensar nisso da perspectiva de diferentes países. Não há uma resposta certa ou errada. O verdadeiro trabalho aqui é arrecadar mais recursos para os pobres, para a fome e para o clima. Se você conseguir isso através da tributação progressiva, que é conforme você ganha mais, você paga mais, essa é uma solução bastante boa.

 

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