O grosso, o chato e a dor da feijoada

O grosso, o chato e a dor da feijoada

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Hoje prolifera gente grossa e gente chata. Uns que estranham e ofendem qualquer diferença e outros que se magoam por qualquer coisa que os teste. Parece que ninguém mais aguenta uma mera pessoalidade sem apontar ou se ofender.
Mas talvez o problema não seja aguentar.
É que todo mundo quer sentir sem sofrer, viver sem quebrar, amar sem sangrar.
Como se existisse parto sem dor ou feijoada sem gases.

Porque sim, viver é desconfortável.
A existência humana, no fim das contas, é um desconforto bem administrado.
Uns reclamam mais, outros fazem piada, outros somatizam em gastrite.

E o que chamam hoje de “gatilho”, “trauma”, “discurso violento” —
às vezes é só a vida dizendo: “Acorda, meu chapa. Você não é o centro do universo.”

Todo mundo tem dor.
Dor de infância, dor de não ser visto, dor de ser rejeitado, dor de ter sido amado do jeito errado.
A diferença está em quem deixa a dor guiar sua vida e em quem oferece um cafezinho pra ela, escuta um pouco e depois a põe no banco do carona.

O problema não é sentir.
O problema é transformar cada dor em identidade, cada tropeço em bandeira, cada crítica em opressão.

E assim seguimos criando adultos frágeis, que se sentem corajosos apenas na internet,
com textos sobre autocuidado e posts com frases sobre “ser sua melhor versão”,
enquanto desmoronam ao primeiro olhar torto de um desconhecido na fila do banco.

É claro que o mundo precisa de empatia.
Mas empatia não é validação incondicional de qualquer drama performático.
Empatia de verdade sabe acolher —
e também sabe dizer: levanta. Enxuga. Vai de novo.

Porque viver dói.
E tá tudo bem.

Se você comeu feijoada e está com gases, o problema não é do mundo.
É só o seu intestino te lembrando que o prazer vem com efeito colateral.

E a vida é assim mesmo:
prazer, dor, coragem, zoeira e, às vezes, omeprazol.

Wanderlei Wormsbecker
Presidente SINDICONTAS/PR

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