Matéria original: Jornal da USP
Na coluna desta semana, o professor Luciano Nakabashi comenta que no Brasil existe a ideia de que o agronegócio é o setor que movimenta a economia brasileira. No entanto, segundo ele, quando se olha para os dados, quem calcula o peso do agronegócio no PIB é o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea/USP, olha para a agropecuária e o setor da indústria e de serviços, que estão associados à agropecuária – como fornecedores ou como demandantes diretos que vão, por exemplo, processar bens agropecuários em bens com maior valor agregado, e setores que fornecem máquinas, equipamentos e matéria-prima.
Quando a gente associa essa parte da indústria de serviços com agropecuária dá em torno de 25% do PIB. A economia brasileira nas últimas décadas tem crescido pouco em relação aos anos 1970, 1960 e anos 1950. Quando se pega dos anos 1930 até o final dos anos 1970, o Brasil cresceu bastante e, a partir de então, tirando os anos 2000 (de 2000 até 2010 ou se pode falar até 2013), o Brasil cresceu muito pouco e nesse período percebemos uma ascensão do agronegócio.
Então, já seria uma evidência bastante forte que o agronegócio não é o motor da economia brasileira. Enquanto ele foi florescendo, o resto da economia brasileira tem patinado e quando se olham as tendências, as relações, de fato, não há correlação do crescimento do agronegócio no Brasil com o PIB do País.
Dos setores, aquele que é muito relacionado com o PIB é o de serviços e, em menor grau, a indústria, porque o de serviços é o que tem maior peso no PIB, tanto em termos de PIB, em torno de 70%, como em termos também de mão de obra, que é o setor que mais emprega no País.
A indústria também tem uma relação forte com o PIB, assim como a construção civil. Mas a construção civil depende muito do desempenho da economia, assim como a indústria de transformação que atende ao mercado interno. Se formos pensar em estratégias, a melhor de fato não é estimular setores, porque isso acaba causando dependência – já vimos bastante isso na história do Brasil -, criando grupos de interesse e depois fica muito difícil tirar esses benefícios que, em muitos momentos, não têm efeito muito claro nessas políticas de estimular determinados setores.
O melhor é dar as condições para que se consiga atrair aqueles setores que são mais dinâmicos tecnologicamente, em termos de dinâmica econômica. Então, como se faz isso? Qualificando pessoas para que elas estejam preparadas e que gerem essa atração de empresas. Quando você tem pessoas qualificadas em um país, por exemplo, as empresas que são mais dinâmicas tecnologicamente tendem a ir para aquele país, e as novas tecnologias são aproveitadas quando você tem mais capacitação da mão de obra local, dos empresários e das pessoas que estão naquela economia. E regras claras, que façam sentido do ponto de vista dos negócios. Então, a redução da burocracia, regras estáveis, regras que remunerem ou que deem peso para a propriedade privada, para que as pessoas de fato queiram investir naquele país.
Eu acredito que são regras claras que façam um ponto de vista no sentido econômico, qualificação das pessoas e infraestrutura, que também é uma parte muito importante para atrair investimento, reduzir custos, aumentar a eficiência e atrair empresas para o país.
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