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Curitiba distorce estudo e ignora dados para dizer que ônibus são seguros na pandemia

  • 10 de junho de 2021

Estudo desconsidera assintomáticos e transforma índice de positividade entre passageiros em “índice de contaminação”

Logo após voltar a declarar bandeira vermelha em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) fez um esforço para afirmar que o transporte coletivo é seguro. Em material divulgado no site da prefeitura, o órgão afirma que a contaminação por Covid-19 nos veículos de transporte urbano é baixa: “Segundo estudo epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), feito em parceria com a Urbs, o índice de contaminação de passageiros do transporte coletivo de Curitiba é inferior a 1%”.

A afirmação, no entanto, não corresponde às informações do estudo da própria Secretaria, que usou duas bases de dados para tentar identificar entre as pessoas que tiveram resultado positivo no exame PCR para Covid-19, quem andou de ônibus no período em que deveria estar em isolamento entre março de 2020 e março de 2021. O estudo levou em consideração cerca de 60% das pessoas que usam transporte coletivo e têm cartão transporte, cujos dados foram usados na análise.

No período de março a dezembro de 2020, doze mil pessoas com PCR positivo para Covid-19 foram identificadas em viagens do transporte coletivo curitibano. É pouca gente se comparada com a média de 249 mil pessoas que diariamente usaram o transporte no período. Segundo o responsável pela pesquisa, Diego Spinoza, educador físico com mestrado em Saúde Pública pela UFPR, o maior índice de pessoas com PCR positivo em relação ao total de passageiros do dia foi de 0,09%.

O que se mediu no estudo não foi a contaminação e sim só a presença de pessoa com resultado positivo para a doença

Foi daí que saiu a conclusão de que o “índice de contaminação” é inferior a 1%. Porém, o que se mediu no estudo não foi a contaminação (ou seja, a transmissão da doença de um paciente doente para outras pessoas dentro do ônibus), e sim só a presença de pessoa com resultado positivo para a doença. Para medir a contaminação seriam necessárias outras formas de mensurar a transmissão do vírus dentro dos ônibus e demais ambientes da rede de transporte, em especial a consideração da densidade de passageiros nos veículos e o tempo de permanência das pessoas dentro do carro.

Gráfico divulgado pela SMS com os resultados da pesquisa. Aqui a conclusão, divulgada pela SMS, de que o estudo conclui que 99,9% dos passageiros não têm Covid-19. Fonte: SMS

O Departamento de Epidemiologia da SMS não quis fornecer ao Plural os dados usados na produção do gráfico com os resultados da pesquisa porque eles estariam ainda “em análise”, muito embora tenham sido amplamente divulgados.

Segundo Spinoza, os resultados obtidos “não querem dizer que não se transmite Covid-19 no ônibus”. Mas ele acredita não ter identificado “uma relação entre o aumento do número de casos e o aumento no número de usuários do transporte”. Ele conclui isso ao sobrepor os dados de número de passageiros por dia no transporte com o número de casos de Covid-19 confirmados na cidade. Essa observação, no entanto, não leva em consideração outros fatores, como o índice de reprodução do vírus (R0).

Outra limitação do estudo diz respeito à baixa testagem de pessoas para rastrear casos de Covid-19. Via de regra, a cidade só realiza exames em pessoas com sintomas moderados e graves. Segundo estudo do Centro de Medicina Baseada em Evidências da Universidade de Oxford que sistematizou os resultados de diversos estudos sobre a evolução de casos de contaminação pelo coronavírus, entre 5 e 80% dos pacientes contaminados permaneceram assintomáticos e parte desses casos assintomáticos podem apresentar sintomas após uma semana.

Questionado sobre a ausência de consideração sobre os assintomáticos, Spinoza disse que os casos sintomáticos “têm maior risco de transmissão”. Ele concordou que “seria melhor testar mais pessoas”, mas que os dados usados “são representativos”.

Ou seja, ao testar só casos moderados e graves, provavelmente uma parte significativa dos casos ativos da doença na cidade jamais entraram para as estatísticas da pandemia na capital. Nem estão entre os casos identificados de pessoas doentes que mantiveram a circulação em ônibus do transporte coletivo.

Segundo Spinoza, o plano agora é ampliar a pesquisa incluindo resultados de exames rápidos, cujo uso foi ampliado pela SMS recentemente. Não há, porém, planos para realizar ampla testagem, mesmo que pontual, dos passageiros do transporte coletivo. Spinoza também afirma que o resultado do estudo aponta para efetividade do uso da máscara, distanciamento e pouca interação entre pessoas dentro dos veículos do transporte na contenção da Covid-19, o que só estudos mais completos de acompanhamento de grupos de passageiros teriam, de fato, condição de concluir.

Um desses estudos, realizado na China, acompanhou 2334 pacientes e 72 093 pessoas que tiveram contato próximo com eles em trens de alta-velocidade do país e concluiu que o risco de transmissão aumenta de acordo com a distância da pessoa do paciente contaminado e o tempo de viagem. A conclusão dos pesquisadores é de que o risco de transmissão dentro do transporte pode ser reduzido ao se reduzir também a densidade de passageiros, a distância entre eles e o uso de equipamentos de higiene pessoal.

 

Fonte: Jornal Plural

   
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