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Sindicato: qual o seu papel? Por Raul Brand

  • 10 de junho de 2021

No início dos anos 80, no final da ditadura, perguntei ao Lula, então grande líder sindicalista, em seminário da APPD-PR, associação pré-sindical dos profissionais de informática que eu presidia, se a criação do PT não enfraqueceria o movimento sindical. Eu estava convencido, e ainda estou, que o movimento sindical deve ser apartidário, porque os interesses dos trabalhadores de uma categoria devem ser defendidos em todos os espaços, não só no espaço de um único partido, dito “Partido dos Trabalhadores”.

Não se pode esperar de um trabalhador de uma categoria que se afine com a ideologia deste ou daquele partido político: é natural aceitar que ele tenha a convicção partidária que achar melhor. Não me filiei ao PT e considerei a atitude do Lula um grande revés ao movimento sindical. O atual presidente da República, grande líder sindical que era, com sua reputação e carisma poderia ter fortalecido sobremaneira os sindicatos do Brasil. Perdeu-se lá uma grande oportunidade de crescimento do movimento dos trabalhadores, ainda que se possa dizer que seu trabalho na área política tenha sido mais relevante. .

A vivência de três anos na Alemanha, onde fui a estudos, com bolsa, me trazia a clareza de que a grande conquista da Sociedade é a liberdade democrática, caracterizada pela dignidade material e moral assegurada por direitos e deveres mínimos do homem. Coisa que não se via nos países comunistas (na época o muro ainda existia), e também não nos países com sistemas capitalistas selvagens, como os que existiam e ainda existem na América Latina, inclusive muito o regime de hoje do Brasil. O capitalismo selvagem, em que o capital pode tudo e o trabalho quase nada, é resultado de ambientes em que a força política do trabalho é fraca. Ao contrário, em lugares onde se observa o equilíbrio de tratamento entre capital e trabalho os sindicatos são fortes. .

Em ambientes de participação política e sindical fracas, como o nosso, onde o “salve-se quem puder” parece ser a regra, a população empobrece e sub-atividades como a do “catador de lixo”, verdadeiro símbolo do assédio moral institucionalizado (ao cidadão, cada um de nós, em caso de necessidade, ainda resta catar lixo!), são incorporadas ao universo econômico formal. E pior, também se impregna em nossa cultura como algo aceitável. Em palestra no nosso TC, o ex-ministro Delfim Neto, que sempre foi de direita, afirmou que considerava o assistencialismo a única alternativa que sobrava à falta de emprego. O Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo, do DEM, afirmou que não fossem as políticas assistencialistas do Governo Federal estaríamos vivendo tempos de saques e violência ainda maiores do que os de hoje. São homens da direita mostrando que o Brasil da atualidade, que nossos filhos e netos herdarão se não emigrarem, ou se não fizermos alguma coisa para mudar, já é um país socialmente doente. .

Não foi surpresa quando, tempos depois da minha volta do exterior, uma amiga contou que havia hospedado em sua residência um integrante de um coral alemão, o qual informou ser lixeiro em seu país de origem. Não entendia ela como é que uma pessoa poderia em alto e bom som, sem constrangimentos, dizer que era lixeiro por profissão. E como um lixeiro poderia participar de um coral. Não fiquei surpreso porque sabia que lá na Alemanha existe a consciência da importância social do lixeiro. E se apresentam as condições de trabalho e de salário dignas. Como lixeiro ou exercendo qualquer outra profissão o cidadão tem condições mínimas de dignidade assegurada. Pode educar bem os seus filhos, viver em habitação e num ambiente social com saúde plena. Bens, diga-se, que não foram doados, mas duramente conquistados pelas categorias profissionais unidas e organizadas.

Sindicato forte, não pelego, assegura respeito aos trabalhadores. Dignidade na relação de poder patrão-subordinado. Sem representação os empregados estão à mercê da boa vontade (leia-se arbítrio) dos empregadores, seja em ambiente privado ou público. A paz no ambiente de trabalho interessa aos dois lados. Assédio moral e arbitrariedades existem em ambientes em que o empregado não tem direito algum, mas o dever de dizer sim, sim e sim ao patrão. E não há sindicato forte sem a participação das pessoas. Afinal, sindicato é essencialmente união, força de gente unida.

Temos duas opções: ou vamos eternamente dizer sim, sim e sim ao patrão, ainda que ele possa estar praticando arbitrariedades travestidas de discricionariedades, ou vamos construir um sindicato forte. Não há outra saída. O Sindicontas é o nosso sindicato. Uma conquista nossa, é bem nosso, que vale completamente a pena defender diariamente. Fazer dele um sindicato forte, unido, respeitado, e deixar de abaixar a cabeça quando o arbítrio imperar é dever, mas também privilégio de cada um de nós. O preço a pagar, se dever, a liberdade possível de ser exercida, se privilégio, é a da não omissão, é a da manifestação do interesse, é a da participação.

Fonte: Raul Brand publicado em  12 DE MARÇO DE 2008

   
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Comentários

15 de junho de 2021 - 09:40

RAUL BRAND JUNIOR

Artigo feito na época (perto de 2008) quando exercia o cargo de Diretor de Formação Política e Sindical do Sindicontas. Na época o presidente era o Lula. O Tadeu considerou o artigo atual e o republicou.

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