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Médicos infectologistas discutem a imunidade de rebanho

  • 17 de setembro de 2020

Ho Yeh Li e Fernando Vieira de Souza divergem sobre a possibilidade de se atingir estágio nos próximos meses e os efeitos da descoberta de uma vacina contra o coronavírus

HO YEH LI, 47 anos, taiwanesa

O que faz e o que fez: é médica infectologista, coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de infectologia do Hospital das Clínicas de São Paulo e consultora da Organização Pan-Americana de Saúde no manejo da Covid-19. Fez doutorado em doenças infecciosas e parasitárias na Universidade de São Paulo (USP)

FERNANDO VIEIRA DE SOUZA, 53 anos, paranaense

O que faz e o que fez: coordenador médico do Ambulatório de Doenças do Fígado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretor de Vigilância em Saúde em Santana de Parnaíba, São Paulo. É médico infectologista e hepatologista, com mestrado em doenças infecciosas pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Quando podemos dizer que atingiremos a imunidade de rebanho contra o sars-CoV-2? Há estudos internacionais que relatam a hipótese de que ela possa ser alcançada com 20% a 40% da população infectada, um índice bem menor do que os 70% projetados por especialistas no começo da pandemia.

HO YEH LI A gente tem de entender que só vamos atingir a imunidade de rebanho quando tivermos o menor número possível de casos, que é o que a gente consegue quando temos um maior número de pessoas imunes, seja pela infecção natural, seja pela vacinação. Essa previsão de atingir a imunidade de rebanho com um percentual menor de infectados é uma percepção baseada em alguns países da Europa, de que quando chegaram a cerca de 25% de contaminados passaram a ter uma redução importante no número de casos. Acontece que esses países tiveram um isolamento rigoroso e assim que foram reabrindo voltaram a ter uma segunda onda importante de infecções, especialmente na Espanha, na França e no Reino Unido. Uma coisa é imunidade com a comunidade fechada e outra coisa é com a comunidade aberta. Por isso, do ponto de vista mundial, não acredito que possamos afirmar que exista imunidade de rebanho com 40% da população contaminada. Em minha opinião, para afirmarmos que não precisamos mais nos preocupar com Covid, porque ela já seria como um resfriado ou uma gripe comum, só quando atingirmos 70% da população contaminada ou quando tivermos uma cobertura vacinal em torno de 85%. Enquanto isso não acontecer, a pandemia vai relaxar, mas nós vamos continuar convivendo com a epidemia da Covid-19, que é uma doença que veio para ficar.

FERNANDO VIEIRA DE SOUZA Nós nunca vamos alcançar a imunidade de rebanho natural do sars-CoV-2 porque a imunidade que ele proporciona é temporária, e não duradoura. Quando temos contato com o vírus, produzimos uma imunoglobulina com durabilidade média de 20 a 24 semanas, e é ela que conferiria a imunidade de rebanho. Mas o que acontece? Depois de 20 semanas, essa imunidade se reduz tanto que a pessoa tem risco de se reinfectar novamente. Acreditava-se no conceito de atingir essa imunidade de rebanho com 70% das pessoas contaminadas lá atrás, no começo da pandemia, baseado no comportamento de outros vírus, como o do sarampo, da catapora, da rubéola. Mas o sars-CoV-2 tem uma particularidade que não permite transportar esse raciocínio para ele, pois não estimula o sistema imunológico como os outros vírus, é completamente atípico. Então, esqueça imunidade de rebanho, pois falar disso em relação à Covid-19 é como secar gelo. Tanto que a vacina, quando existir, muito provavelmente terá de ser aplicada em duas ou três doses e reaplicada depois de seis meses a um ano. Esse conceito de imunidade de rebanho para o sars-CoV-2 é uma falácia.

A partir do momento em que existir uma vacina, então, poderemos nos sentir seguros?

HYL Diante de uma pandemia e do alto número de pessoas morrendo, qualquer vacina com mais de 50% de efetividade será aprovada para uso na população. Pensando de maneira coletiva, é um valor importante, pois em vez de morrerem 100 pessoas você reduz o risco para 50 pessoas. Mas, pensando na questão individual, você está 50% protegido e tem 50% de risco de ter a doença. A vacina nesses moldes pode passar uma falsa sensação de segurança, e a pessoa pode afrouxar as medidas de proteção. Um vacina boa deve ter acima de 85% de efetividade, mas pouquíssimas vacinas têm esse resultado, é importante dizer isso. A vacina de sarampo, por exemplo, chega a 95% de efetividade; a de febre amarela, 98%, a de tétano, 99%.

FVS Quando existir uma vacina, sim, porque vamos fazer um imunizante com uma, duas, três doses e vamos revacinar a população depois de seis meses a um ano. Se tivermos 80% da população vacinada, conseguimos eliminar a doença, pois o vírus deixa de circular entre os mais suscetíveis e os que não podem por alguma razão se vacinar. A partir do momento em que a pessoa recebe a vacina, ela passa a produzir anticorpos e não desenvolve a doença. Então, mesmo que o vírus continue circulando, quando ele chegar a essa pessoa, não vai conseguir infectá-la. E, depois de 12 meses, ela recebe a vacina de novo. Aos poucos, o vírus desaparece. Mas isso é diferente de erradicar a doença. Em minha opinião, o sars-CoV-2 só será erradicado da humanidade daqui a uns 100 anos, não vamos estar aqui para ver.

Sem uma vacina e sem imunidade de rebanho, quando o país atingir uma estabilidade no número de casos e de mortes, quais deverão ser os próximos passos? Faz sentido falarmos ainda em isolamento social?

HYL Está na hora de virarmos o disco e começarmos a passar outras mensagens para a população. Em vez de falarmos “fique em casa”, a mensagem agora deve ser “se sair de casa, saia com segurança”. Ninguém aguenta mais ficar em casa, o mundo não pode parar completamente. Os governantes precisam manter a vigilância e reforçar o controle dos casos positivos e seus contactantes. Agora são essas pessoas que precisam ficar isoladas, e não mais a cidade toda. Isso pensando em saúde pública. Precisamos agora orientar a população sobre como sair de casa de forma tranquila, usando máscara da forma correta e não no queixo ou no pescoço. Temos de incorporar o uso de máscara a nossos hábitos, assim como usamos cinto de segurança. Reforçar a importância da higienização constante das mãos e evitar aglomerações. O maior erro, para mim, é restringir o horário do comércio, pois isso acaba provocando uma aglomeração maior naquele determinado momento em que o comércio está funcionando. As academias deveriam estar abertas 24 horas, e não apenas por poucas horas no dia. O ideal seria flexibilizar o horário do comércio por categorias, para reduzir o número de pessoas na rua ao mesmo tempo.

FVS A flexibilização do isolamento vai ter de acontecer, porque o Brasil não tem como segurar mais essa situação, somos um país pobre, as pessoas precisam trabalhar. Neste momento que estamos vivendo da pandemia, faz sentido falarmos em isolamento social seletivo, das pessoas que têm comorbidades que são um fator de risco para a doença. Não dá para voltar tudo plenamente como era antes da pandemia, mas é preciso retomar as atividades de forma organizada, com segurança, seguindo à risca as orientações de uso de máscara, higienização das mãos, evitar aglomerações. Mas o que temos visto é que as pessoas estão voltando à “vida normal” sem o menor cuidado, não estão usando máscara, estão indo à praia, a bares, festas. Não temos vacina ainda, e o vírus está circulando, então daqui a três, quatro semanas teremos um aumento exponencial no número de casos. Pode escrever.

Por Fernanda Bassette

FONTE: O GLOBO 

 

   
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