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Ratinho Júnior afirma que representa uma "ruptura política" no Paraná

  • 27 de novembro de 2018
"Esse discurso ideológico de que a iniciativa privada não pode prestar serviço público é uma grande bobagem"
 
Alinhado com o futuro presidente Jair Bolsonaro, o governador eleito do Paraná, Carlos Roberto Massa Júnior, o Ratinho Júnior, se inclui sem modéstia numa nova safra de políticos que surge no país. Aos 37 anos, eleito pelo PSD, diz que construiu sua carreira política longe das famílias tradicionais que dominaram seu Estado, o que lhe assegurou a vitória eleitoral no primeiro turno. Ao lado dos governadores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, monta um grupo articulado para organizar políticas regionais do sul. "Juntos temos 15% do PIB", afirmou ao Valor, após participar, em São Paulo, de fórum do agronegócio promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
 
O Paraná, assegura, não terá receios de trazer a iniciativa privada para o setor público. O agronegócio é visto como a locomotiva que pode dar protagonismo ao Estado, mas exportando valor agregado. "Não queremos mais vender soja. Queremos vender shoyu. A carne também não vamos vender a peça inteira. Vamos fazer o bacon do porco."
 
Confira os principais trechos:
 
Valor: Sua equipe contratou a Fundação Dom Cabral para fazer o diagnóstico de gestão. Quais são os termos e objetivos do contrato?
Ratinho Júnior: O gestor público, neste momento, tem que modernizar a máquina pública. O modelo de gestão pública no Brasil está parado da década de 70, 80. Temos que buscar ferramentas que deem mais agilidade na prestação de serviço para o cidadão, para que as políticas públicas cheguem de maneira mais rápida, as decisões sejam tomadas de maneira mais eficaz e com custo menor. Ninguém aguenta mais bancar a máquina através de impostos. Então a ideia agora é enxugar, diminuir, dar eficiência à máquina. Hoje o Paraná tem 28 secretarias e nós vamos chegar em 14, no máximo 15.
 
Valor: O ex-ministro Reinhold Stephanes é o coordenador da transição. Ele estará no seu governo?
Ratinho Jr.: Ele vai compor a nossa equipe, obviamente. Foi o coordenador do nosso plano de governo. É uma grande referência, o paranaense mais experimentado na República. Pela estatura dele, estará onde ele considerar que poderá melhor colaborar.
 
Valor: O Paraná está entre o limite prudencial e o limite de alerta da Lei de Responsabilidade Fiscal. Qual o principal desafio fiscal?
Ratinho Jr.: Primeiro fazer com que os gastos não cresçam, que a máquina pública diminua para esse custo começar a ter menos impacto em todas essas métricas que o Tesouro e o Banco Central cobram dos Estados. Quero fazer uma discussão permanente com o servidor público. Hoje, dos R$ 60 bilhões arrecadados pelo Estado, R$ 32 bilhões vão para a folha. Temos que ter uma política de conversa constante para que nós não tenhamos problemas como Minas, Rio Grande do Sul e Rio, que têm que ficar parcelando a sua folha. Gosto muito da ideia de ter a iniciativa privada participando. Esse discurso ideológico de que a iniciativa privada não pode prestar serviço público é uma grande bobagem. Temos que quebrar esse discurso ideológico, sem discussão de direita e esquerda, mas sim buscando eficiência.
 
Valor: Sua gestão então terá este formato, em que serviços básicos, como saúde e educação, tenham participação da iniciativa privada?
Ratinho Jr.: Eu acho que sim. A educação menos, porque tem uma tradição e uma cultura. Na saúde nós temos já bons exemplos. O maior hospital da América Latina é do Paraná, o Hospital do Rossio, que fica em Campo Largo. Ele foi 100% feito pela iniciativa privada, de um único dono, mais de R$ 300 milhões de investimento, e atende 94% [de pacientes] do SUS. Tem ambulatório, ar-condicionado, TV de LED...
 
Valor: Já tem o diagnóstico de privatizações e PPPs que fará?
Ratinho Jr.: Em especial, na parte de rodovias. O Paraná não conseguiu acompanhar todo esse crescimento do agronegócio. Nossas rodovias são da década de 70, 80, não são duplicadas. Estamos encaminhando uma lei, aliás, pedi para a atual governadora encaminhar, para modernizar as PPPs no Estado. Acredito que ela vai mandar no final deste mês para aprovar até dezembro na Assembleia. É para facilitar, modernizar, ter mais segurança jurídica para o parceiro privado. O Estado não deve gastar energia fazendo gestão de presídios. Podemos trazer alguém, como na Inglaterra, nos EUA. Vamos dar mais poder à Agepar [Agência Reguladora do Paraná], sem influência política.
 
Valor: O senhor tem grande expectativa com o agronegócio...
Ratinho Jr.: É. O Paraná sempre foi o maior produtor do Brasil de alimentos. Nunca trabalhou isso de forma estratégica e planejada. Nós vamos assumir isso como vocação do nosso Estado, e seremos protagonistas no mundo na área de produção de alimentos. Vamos começar a fazer um trabalho muito forte do poder público para o setor privado produtivo, de valor agregado. Não queremos mais vender soja. Queremos vender shoyu. Queremos vender o óleo. A carne também não vamos vender a peça inteira. Vamos vender parte dela. Vamos fazer o bacon do porco. Isso gera emprego.
 
Valor: Atribui sua eleição à onda que elegeu Jair Bolsonaro?
Ratinho Jr.: Não. Não vim dos grupos políticos tradicionais. Há mais de 40 anos, três famílias dominavam o Paraná. Eu não vim destas famílias. Eu vim construindo um grupo político desde 2002, sem ter essa influência. Não tenho nenhuma crítica às famílias tradicionais, colaboraram com o desenvolvimento do Estado, mas foi uma ruptura política. Construímos isso com muita independência. Vamos fazer um governo muito moderno, jovem, tirando essa característica tradicional da política, de ter que ficar acomodando gente. Estou muito motivado. Acho que pode ter sido até uma união, um pouco, deste momento atual do país, mas acima de tudo foi uma construção de 16 anos.
 
Valor: Como o senhor pretende pautar sua relação com o futuro presidente, vocês são próximos?
Ratinho Jr.: Eu tenho uma relação boa com ele, porque fomos deputados, né? Eu não sou amicíssimo dele, de frequentar a casa, mas tenho boa relação. No Paraná ele declarou apoio para mim no primeiro turno, mesmo o Alvaro Dias [Podemos] estando na minha coligação. No segundo turno eu retribui o apoio para ele e trabalhamos lá. É a primeira vez, no Paraná, nos últimos 25 anos, que o governador tem relação boa com os três senadores e uma sinergia com o governo federal. Temos que aproveitar esse momento político para fazer com que o Paraná cresça mais ainda.
 
Valor: O que espera da União na área da segurança pública, até por estar em área de fronteira?
Ratinho Jr.: Acho que Bolsonaro vai colaborar muito, em especial na parte financeira, com o Ministério da Justiça fortalecido, com combate ao crime organizado. Logo que eu ganhei as eleições anunciei um general do Exército como secretário de Segurança. A ideia de trazer um general é porque, primeiro, você acaba com as brigas de corporação. Tira essa miudeza que muitas vezes estraga a eficiência da segurança pública. Traz um planejamento de segurança de fronteira. A ideia é trabalhar muito a tecnologia. Temos o Projeto Muralha, que é uma linha tecnológica monitorando quem entra e quem sai do Paraná com esses países, placas de carro, etc. E vamos criar a Cidade da Polícia, que é uma central de inteligência, planejamento e segurança pública. No mesmo prédio vamos ter todos os órgãos de segurança.
 
Valor: Os governadores do Sul estão se articulando, o senhor participou de uma reunião. Os governadores do Nordeste também apresentaram uma pauta a Bolsonaro. Haverá uma tendência maior de regionalização do Brasil, até pela clara divisão política na eleição?
Ratinho Jr.: Os nordestinos sempre foram mais organizados que os demais, em especial os [governadores] do Sul. O que estamos querendo fazer agora, o governador Eduardo Leite [Rio Grande do Sul], o governador [Comandante] Moisés [de Santa Catarina] e eu, é buscar a sinergia de algumas pautas. Por exemplo: o sul nunca pensou a sua infraestrutura com um plano diretor. Somos os grandes produtores de alimentos, com o agronegócio muito forte, a indústria muito forte. Temos que pensar isso juntos. Juntos temos 15%, 16% do PIB. São Paulo é os EUA. Tem vida própria, é outra realidade. Então nós, do sul, temos que pensar coletivamente em outros desafios, como infraestrutura, turismo. Como somos três governadores jovens, não só de idade, mas também de mentalidade, que não são grupos tradicionais de partidos antagônicos, e tal, a gente pode, com tranquilidade, se falar e se ajudar.
 
Valor: E qual sua visão sobre a divisão política do país, norte-sul?
Ratinho Jr.: É uma questão cultural. Há pautas universais entre os governadores, independentes das questões políticas. Tem muitas decisões administrativas que podem ajudar os governadores. Nós não temos dinheiro, e nem o governo federal. Não adianta ficar achando que vai chover dinheiro da noite para o dia. Vai demorar um tempo para que tudo o que está sendo planejado pelo governo federal e pela política econômica dê resultado. É um navio. Até ele retomar, virar... O governo federal pode colaborar. Descentralizar, por exemplo, questões portuárias e de infraestrutura, ambientais.
 
Valor: Em relação ao funcionalismo, vários governadores querem discutir a estabilidade do servidor público. O senhor é a favor?
Ratinho Jr.: Tem que discutir. O bom servidor não pode pagar pelo mau servidor, e hoje paga. A Constituição foi feita há 30 anos, era muito boa, mas o mundo mudou. Por que o Estado hoje não pode ter servidor trabalhando em casa? O mundo mudou. Home work. Temos que mudar as regras. Não podemos ficar estagnados em décadas passadas. Claro que defendendo garantias, mas repensar o novo modelo.
 
Valor: O senhor mencionou a idade, a nova geração de políticos do Sul. Qual seria o perfil desta nova classe política que está surgindo?
Ratinho Jr.: O perfil de gestor público. O Brasil nunca teve a cultura de ter gestores públicos. Nunca tivemos política de planejamento a médio e longo prazos. Se não fazemos planejamento, vamos sempre querer resolver os problemas quando desaba a casa, quando cai o morro. É o que os asiáticos fizeram, o que os americanos fazem há muito tempo, os europeus estão fazendo. A política brasileira, do jeito que aconteceu até agora, faliu. Quem não repensá-la e não remodelá-la está fadado ao fracasso.
 
Valor: O senhor vem de uma família de comunicadores. Como vê a imprensa brasileira?
Ratinho Jr.: Vejo a imprensa brasileira como uma das mais eficientes do mundo. Temos quadros qualificadíssimos, somos uma imprensa extremamente livre, com grupos fortes. A imprensa é o olho clínico da sociedade. E temos que conviver com ela, e conviver bem. Faz parte do show. Esta eleição começou a cobrar algo que a imprensa não tinha, e que os americanos têm, que é a imprensa se posicionar, começar a ter lado. Isso é ótimo.
 
Valor: Bolsonaro terá uma relação conflituosa com a imprensa?
Ratinho Jr.: Não. Pode mudar a maneira administrativa de se relacionar, em termos de investimento, mas hoje existem regras, leis, share de mercado. Não pode colocar mais na Record do que vai colocar na Globo. Agora, como político, tem o direito de fazer crítica a esse ou aquele órgão.
 
 
Fonte: Valor Econômico
   
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